Apesar do baixo crescimento de 1,9% em 2013, o ano foi bom para a economia americana. Houve queda do deficit público da ordem de dois pontos percentuais do PIB. Redução de deficit desse tamanho com crescimento pouco abaixo de 2% representa resultado muito melhor do que as economias europeias têm conseguido.
Lembremos que em 2013 a economia americana já trabalhava sob a armadilha da liquidez –aquela situação na qual a demanda é tão fraca que o juro de equilíbrio é negativo– e mesmo assim ela conseguiu encaixar a forte redução dos gastos públicos e elevação da receita, episódio conhecido por abismo fiscal, mantendo crescimento pouco abaixo do potencial.
O abismo fiscal não se repetirá neste ano. A política fiscal será certamente muito menos contracionista do que foi em 2013. O fim do vento de proa fiscal colocará a economia rodando a 3% ao ano em 2014.
Desde a crise até o momento os analistas acompanhavam com detalhe a evolução do mercado de trabalho. É nesse mercado que a crise adquire a dramaticidade antes somente experimentada na Grande Depressão dos anos 1930.
Tomando como referência as demais crises americanas do pós-guerra, há dois fatos novos relativos ao mercado de trabalho. Primeiro, a forte elevação e persistência do desemprego de longo prazo. Após cinco anos do início da fase aguda da crise, o desemprego de 6,6% divide-se em 3,8 pontos percentuais de curto prazo e 2,8 pontos de longo prazo. Para efeito de comparação, em 1986, cinco anos em seguida ao pico do desemprego produzido pela política monetária muito apertada de Paul Volcker, o desemprego de longo prazo era de somente 1,0%.
Adicionalmente, desde o início da crise, milhões de trabalhadores retiraram-se da força de trabalho. A taxa de atividade, que é a razão entre a população economicamente ativa (PEA) e a população em idade ativa, reduziu-se em três pontos percentuais, de 36% para 33%.
Inicialmente a fortíssima queda da PEA representava desalento, isto é, os desempregados, em razão das péssimas perspectivas do mercado de trabalho, simplesmente deixavam de procuram empregos.
Resumindo, o mercado de trabalho americano apresentaria elevados índices de desalento e de desemprego de longo prazo, que afetaria hoje 11 milhões de pessoas, além dos 6,6 milhões de desempregados de curto prazo.
No entanto, há sinais de que a lenta, mas persistente, evolução da demografia tem nos últimos cinco anos reduzido muito a parcela dos trabalhadores que se retiraram da força de trabalho devido ao desalento. Cada vez mais a queda da taxa de atividade parece ser fruto de aposentadorias por idade, por tempo de serviço ou por invalidez.
Analogamente, o desemprego de longo prazo parece ter adquirido feições europeias de desemprego estrutural. Ou seja, o desemprego de longo prazo não interfere, ou interfere pouco, no funcionamento do mercado de trabalho.
A interpretação de que a maior parte do desemprego de longo prazo é desemprego estrutural é coerente com inflação positiva, como temos observado nos EUA, e desemprego elevado. Nas experiências passadas, níveis tão elevados de desemprego produziram (produziriam) deflação, fato não observado na experiência atual.
Seja ou não correta a interpretação de que há menor folga no mercado de trabalho, em razão de o desemprego de longo prazo ser em boa medida estrutural e de o desalento ser muito menor do que foi há dois ou três anos, parece-me que ela vai se tornando consensual entre os analistas.
E, se o desemprego estrutural é elevado, se o desalento é menos desalento do que se imaginava, todos os olhos se voltam para a inflação. Com mercado de trabalho mais apertado, temos que saber para onde caminharão os preços com a economia crescendo em ritmo mais forte.
Essa é a agenda para os que acompanham a conjuntura da economia americana em 2014.
Fonte: Folha de S. Paulo, 09/02/2014
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