Não durou nem uma semana o efeito positivo do anúncio do novo megapacote de socorro à Grécia. Paradoxalmente, o momento delicado para a União Europeia não se refletiu numa fraqueza de sua moeda.
O celebrado Nouriel Roubini prognosticou anteontem a saída de Portugal e Irlanda da União Europeia, “com uma probabilidade de 30%”.
O imaginativo economista não chegou a dizer como calculou tal percentagem e com tal precisão, mas argumentou que o arrastar da crise de endividamento nesses países, por anos seguidos, deverá induzir as populações afetadas por sacrifícios exagerados a votar por um abandono da disciplina imposta pelos credores, desligando-se da comunidade e recriando suas próprias moedas, naturalmente mais fracas e inflacionárias.
Este cenário de “noivo neurótico, noiva nervosa” pintado por Roubini e outros, em que o noivo, no caso os credores bancos e países mais fortes, se desespera com a incapacidade de pagar da noiva nervosa, não tem cabimento em confronto com os interesses da própria noiva em permanecer no casamento.
O embate surdo entre os credores dos grandes endividados europeus, no momento, é sobre como se implantar regras distintas para eventuais recortes de dívidas aplicados aos diversos devedores.
Na Europa, o panorama dos endividamentos cruzados entre bancos privados, agências estatais de fomento, governos e seus respectivos bancos centrais é em tal ordem opaco e confuso que se torna exercício inútil calcular vantagem pelo corte do vínculo monetário de cada país com a moeda comum.
Entretanto, a “noiva nervosa” reconhece desde logo uma coisa: ficará bem pior e mais pobre sem seu noivo neurótico! Prognóstico: um brutal nível de empobrecimento da economia portuguesa na hipótese de seu desligamento da União Europeia.
Por outro lado, não vejo como a recriação do Escudo, a antiga moeda portuguesa, proporcionará a desejável vantagem competitiva aos produtores portugueses, ao adicionarmos os reflexos fortemente negativos nos mercados financeiros, pela impossibilidade de Portugal acessar taxas de juros em euros.
Os custos financeiros do dia seguinte ao abandono do barco europeu me parecem muito maiores e mais duradouros do que os custos fiscais do sacrifício de permanecer na União.
Mas não é só pelo lado da noiva nervosa. O noivo neurótico também não terá interesse em administrar os reflexos políticos de uma união fracassada.
Na experiência histórica da região, esse tipo de desapontamento político evoluiu para guerras cruentas. A alternativa de assumir o prejuízo financeiro nos balanços bancários e nos orçamentos públicos começa a parecer mais palatável aos políticos do que a perspectiva de uma Europa fragmentada, com barreiras imigratórias e uma nova política de ódios entre vizinhos.
O episódio do sangrento e covarde atentado desta semana na Noruega é parte desse ódio. A Europa civilizada não tem como recuar de seu projeto comunitário, principalmente quando visto na perspectiva maior da futura geopolítica dos blocos mundiais ao longo deste século. Minhas fichas ainda estão na força da União Europeia. A questão relevante continuará sendo como distribuir a conta do almoço.
Fonte: Brasil Econômico, 29/07/2011
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