O governo divulgou mais um pacote de estímulo à demanda, outra vez focado na indústria automobilística. Entre as principais medidas estão a queda do IPI sobre automóveis, a redução do IOF em operações de crédito às pessoas físicas, a liberação dos depósitos compulsórios (recursos que os bancos têm de depositar no Banco Central) para financiar a compra de veículos, e a diminuição dos juros do BNDES, que também beneficia as montadoras, ao estimular a venda de caminhões.
A preocupação com a demanda reflete a constatação de que em 2012 o PIB pode crescer menos que os 2,7% registrados em 2011, quando tivemos o pior desempenho entre os BRICS e os países da América do Sul. De fato, depois de desacelerar no segundo semestre de 2011, a economia estagnou no primeiro trimestre deste ano. É o que sugere o IBC-Br, indicador calculado pelo Banco Central para antecipar o PIB, que registrou quedas sucessivas nos três primeiros meses do ano, apontando crescimento nulo tanto contra o trimestre anterior quanto o mesmo período de 2011. Com isso, dificilmente o PIB este ano vai subir mais do que 2,5%. O Boletim Macroeconômico do IBRE estima que no primeiro trimestre o PIB tenha crescido 0,4%, puxado por uma alta de 0,8% no consumo das famílias, compensando queda de 2,5% no investimento e uma contribuição nula da demanda externa (exportações menos importações). Para ter alta de 2,5% no ano, o PIB teria de crescer a uma média anualizada de quase 5% nos outros três trimestres.
Irá o pacote mudar esse quadro? Terão sido essas medidas as melhores a tomar tendo em vista o quadro descrito acima? A resposta a essas duas questões é provavelmente não. A desaceleração da demanda tem muito a ver com a exaustão de um modelo baseado no consumo. Ele está se exaurindo por que as famílias já estão bem endividadas – excluindo-se o crédito imobiliário, a razão crédito às famílias sobre o PIB no Brasil já é relativamente alta – e o ciclo recente de compra de bens de consumo duráveis faz com que haja pouco espaço para vender mais carros, geladeiras etc.
Um sinal do endividamento elevado é exatamente o aumento da inadimplência no financiamento de automóveis, a despeito da alta no emprego e na renda. Melhor do que dar ainda mais incentivos à indústria automobilística e estimular as famílias a se endividarem ainda mais seria adotar um programa de melhoria do clima de investimento no Brasil. É sintomático que no mesmo dia em que o pacote foi anunciado a China acenou com estímulos ao crescimento via investimentos na infraestrutura.
É preciso reduzir a importância do consumo turbinado pelo crédito e estimular o investimento e o aumento da produtividade. Isso não vai ocorrer via subsídios do BNDES: basta ver que entre 1995 e 2010 os desembolsos do banco quadruplicaram como proporção do PIB e a taxa de investimento pouco se mexeu. Melhor seria fazer reduções horizontais da carga tributária, simplificar a burocracia, investir em infraestrutura e reduzir mais os juros.
Fonte: O Globo, 23/05/2012
porque as vendas de carros,novos ainda esta parada depois, de todo esse pacote de incetivo.