A catástrofe que dizimou o Haiti levou uma mulher brasileira que será para sempre um exemplo de compaixão e solidariedade cristã: Zilda Arns. Criadora da Pastoral da Criança, essa notável e humilde senhora fez de sua inquebrantável fé ao catolicismo o norte e o prumo de uma vida dedicada aos mais necessitados.
Sempre ao largo da atrasada e recorrente ação assistencialista, Dona Zilda soube dar dimensão moderna à caridade, atividade historicamente nobre daqueles que transformaram em obras os preceitos da cristandade. A vida dela é exemplar porque revelou-se cotidianamente de uma coerência rara para os dias que vivemos.
Tempos de relativização de conceitos primordiais e constitutivos da civilidade. A religião tem sido grande álibi para práticas e comportamentos que nada remetem ao bem e à transcendência.
Politizada, mercantilizada e até transformada em manifesto do terrorismo, a religião vai sofrendo pela ação de muitos um processo de desligamento de seu sentido estruturante para aqueles que possuem a graça da fé.
E, diga-se, isso nada tem a ver com a religião, nenhuma delas, mas com a ação de homens. Ou não vivenciamos o descolamento entre a fé professada e a ação no dia a dia? Em nome de Deus, da liberdade e do bem comum muitos crimes foram e são cometidos.
Dona Zilda fará muita falta para aqueles que mais precisam, mas deixou como legado uma referência fundamental, a de que é possível e necessário fundamentar a vida a partir de ideais de amor ao próximo. Para ela isso é a expressão da palavra divina.
Assim como Paulo, Dona Zilda Arns saiu pelo mundo levando a palavra e a igreja de Cristo. Encontrou a morte numa igreja entre os pobres do Haiti. Que descanse junto ao seu Pai.
(“O Dia”, 17/01/10)
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