Direita x Esquerda: anacrônica e interminável disputa.
Historicamente esses termos surgiram durante a Revolução Francesa. O chamado “Terceiro Estado”, alta e média burguesia e setores mais populares, sentava-se à esquerda do rei, enquanto os aristocratas e o clero sentavam-se à direita.
Somente após a revolução e a queda da monarquia é que essa divisão passou a ser usada para separar girondinos (a burguesia, temerosa de uma radicalização da revolução) e jacobinos (que desejavam esse aprofundamento revolucionário).
Talvez essa filigrana histórica sirva para explicar o porquê da minha opinião sobre não existir partidos de direita no Brasil. No final das contas são todos esquerdistas que temem como se fosse um xingamento a palavra “direita”. Fazendo o papel da derrotada monarquia francesa, podemos perfeitamente encaixar a ditadura militar, aquele indesejável e longo período de estagnação política e intelectual.
Carlos Lacerda talvez tenha sido o último grande político a representar a tal “direita” na forma como vemos em vários países europeus e nos EUA.
Após a queda da ditadura e a ascensão da Nova República, todo mundo no Brasil virou “de esquerda” ou, como alguns denominam, “progressistas”. Não temos em nosso amplo leque partidário nada que se assemelhe à divisão existente entre Democratas x Republicanos, Trabalhistas x Conservadores, Democratas-Cristãos x Sociais-Democratas.
Isso é estimulado pela postura de boa parte de nossa mídia, que desqualifica e trata como absurdo qualquer proposta política que ouse chegar sequer nas cercanias do outro lado do corredor. No final das contas, ninguém quer ser associado ao que é quase um palavrão em nosso cenário político, que é a palavra “direita”.
E devido a isso, o que sobra como “direita” no Brasil são partidos fisiológicos que abraçam um falso conservadorismo, com viés na “moral e bons costumes”, na mistura de política com religião ou então no famoso “rouba mas faz”.
Nada que chegue perto do que realmente representam alguns ideais tidos como de direita mundo afora, como a defesa do estado não mínimo, mas concessor e fiscalizador, das liberdades individuais, do mérito e de um governo voltado para o cidadão médio e não para a “sindicatocracia” que termina por criar novas elites e aparelhar o poder público.
A eleição presidencial deste ano é outra prova disso. Ainda que queiram imputar a um dos candidatos a pecha de “direitista”, a verdade é que não existe nada perto disso no cenário atual.
Teremos três representantes da esquerda concorrendo à presidência, diferindo entre si apenas em sua postura quanto às liberdades individuais, à alternância de poder e à condução responsável do estado e das políticas econômica, social e de infra-estrutura.
Por isso eu digo: não existe partido de direita no Brasil.
Temos sim, 1/3 do eleitorado brasileiro, que erroneamente é considerado “anti-PT”, mas que na verdade é “anti-esquerda”. É uma parcela da população que paga seus impostos, leva sua vida longe das cúpulas palacianas e partidárias, que deseja apenas que o estado garanta sua segurança e um futuro para sua família. É uma parte considerável da nossa sociedade que vaga por aí, de eleição em eleição, à procura de quem mais se aproxime da postura que acredita ser melhor para sua cidade, seu estado e para o país.
Pessoas que desejam uma imprensa livre, um estado fiscalizador e responsável com seus gastos, a oportunidade como estímulo para o mérito, a transparência, a alternância de poder. Valores que estão muito além da divisão simples entre direita e esquerda.
Costumo dizer que são pessoas que não tem nenhuma ONG a seu lado lutando pelo direito delas e são mais conhecidos por outro nome que virou quase palavrão, a exemplo de “direita”, que é a “classe média”.
É um contingente razoável de pessoas que, qualquer dia desses, acaba fundando o MSP: Movimento dos Sem Partido.
Direita vs esquerda…
“Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas formas que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral. Ademais, a persistência destes qualificativos contribui não pouco a falsificar mais ainda a “realidade” do presente, já fala de per si, porque se encrespou o crespo das experiências políticas a que respondem, como o demonstra o fato de que hoje as direitas prometem revoluções e as esquerdas propõem tiranias.” (Ortega y Gasset)
A estrutura de corrupção institucionalizada tem 2 partidos como personagens da farsa que “legitima” a democracia e monopoliza o debate.
Censor, posso concluir meu comentário? Ou não vai fazer muito sentido e prefiro que apaque tudo então.
Dane-se. Vou indo desisto.