Em tempos de vacas magras, com a economia estagnada, a balança comercial deficitária e um pacote reformulado de concessões em ferrovias, rodovias e aeroportos para “vender” aos investidores, o governo parte em busca de consultas e acordos bilaterais com outros países. A ideia é resolver questões pontuais que travam comércio e investimentos, com a ampla participação do empresariado brasileiro, para que esses comitês bilaterais entre governos funcionem como uma espécie de juizado de pequenas causa, segundo explicou ao GLOBO o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, coordenador das negociações.
O regime de consultas bilaterais teve início com a recente retomada das boas relações do Brasil com os Estados Unidos, somada à evidente recuperação da economia americana.
Câmbio mais favorável
A expectativa é que os primeiros resultados das conversas sejam conhecidos no fim deste mês, durante visita da presidente Dilma Rousseff a Washington.
— Os EUA voltaram a crescer. Quando isso acontece, crescem as exportações brasileiras. Além disso, os exportadores contam, hoje, com um câmbio mais amigável, na faixa de R$ 3. A conjuntura vem melhorando — afirmou Ramalho.
Na semana passada, houve uma reunião entre autoridades do Brasil e do Peru. Até a segunda quinzena de agosto, há encontros marcados com Uruguai, Argentina, Venezuela, Noruega, Chile, Paraguai, Índia, Bolívia e Colômbia. E uma possibilidade de encontro com a China, ainda a confirmar.
Nesse plano de ação, que fará parte do Programa Nacional de Exportações, a ser divulgado até junho, há alguns dados que estão sendo levados em conta por técnicos do governo e representantes do setor privado. Por exemplo: foi com a Nigéria que o Brasil teve o maior déficit comercial em 2014, no valor de US$ 8,5 bilhões, devido ao aumento das importações de petróleo. Os nigerianos poderiam comprar mais do Brasil, destaca Ramalho.
O segundo maior saldo negativo foi com os EUA, de US$ 7,9 bilhões. Os americanos podem substituir parte das compras de manufaturados brasileiros que deixaram de ser feitas pela Argentina, devido à forte crise econômica pela qual passam os argentinos, sugere.
Por outro lado, a Venezuela foi, individualmente, o país que garantiu ao Brasil o maior superávit comercial, no valor de US$ 3,4 bilhões. O montante é superior ao registrado com a China, de US$ 3,3 bilhões. Mergulhados em uma grande crise política e econômica, os venezuelanos preocupam os exportadores brasileiros, que temem não receber pelo que venderam aos vizinhos.
No caso da China, 90% das exportações brasileiras são de produtos básicos. Os chineses importam cerca de US$ 2 trilhões por ano, dos quais US$ 1 trilhão de manufaturados. Poderiam abrir uma janela para o Brasil em industrializados, sugere o secretário.
— Os exemplos não param por aí. A Bolívia e o Paraguai podem se tornar grandes mercados compradores de automóveis — enfatizou Ramalho.
Objetivo é diversificar a pauta
Ele disse que a diversificação da pauta de exportações é um dos pontos do Programa Nacional de Exportação (PNB), a ser lançado ainda neste semestre, e isso se dará, de um lado, pelos acordos bilaterais e, de outro, pela expansão da origem dos produtos.
— Estamos conversando sobre isso com os governos estaduais. Falta uma cultura exportadora.
Para Ramalho, o pior já passou e as condições para que o Brasil sente-se à mesa com outros parceiros são satisfatórias. O realinhamento de preços está chegando ao fim, e o câmbio está fazendo com que diversos projetos de exportação sejam retomados.
Fonte: Extra.
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