Por Fábio Colletti Barbosa*
Já falei aqui algumas vezes sobre a importância de tomar decisões de carreira que estejam alinhadas com os seus valores. O que vale para indivíduos, vale para empresas, guardadas as devidas características de cada um.
Muitas empresas têm seus valores em quadros espalhados pelas salas de reuniões, nos sites e cartões de visita, mas o que interessa mesmo é a forma como eles são aplicados no dia a dia e formam a cultura de um determinado grupo. Os valores devem guiar cada decisão da companhia, os lançamentos de produtos, o tratamento dado aos clientes e colaboradores, a parceria com fornecedores e principalmente devem estar presentes no planejamento de curto, médio e longo prazo.
Recebi outro dia um artigo que falava sobre a empresa Home Depot, uma varejista americana que trabalha com produtos para casa e construção. Ao descrever a sua cultura, eles fazem uma brincadeira com o sangue laranja, em referência é claro a sua cor principal, e o mais importante: salientam que valores guiam ações, decisões e comportamentos, são crenças que não mudam com o tempo.
Do ponto de vista financeiro, é possível materializar os valores nos chamados critérios ambientais, sociais e governamentais (em inglês conhecidos pela sigla ESG). A partir desses indicadores, podemos ter uma noção de como a empresa atinge os resultados e não somente os resultados per se.
O tema tem chamado cada vez mais atenção. Desde o ano passado, o CEO da BlackRock, Larry Fink, a maior empresa em gestão de ativos no mundo, tem falado em sua carta anual sobre o papel das organizações: “para prosperar ao longo do tempo, toda empresa deve não apenas oferecer desempenho financeiro, mas também mostrar como ela contribui positivamente para a sociedade”. A gestora prevê que os ativos em fundos negociados em bolsa (ETFs) voltados para os indicadores ESG crescerão de 20 bilhões de dólares para mais de 400 bilhões até 2028.
Destaco dois pontos que tem levado à essa mudança de pensamento: o primeiro é que diversos estudos têm mostrado a correlação positiva entre finanças sustentáveis e retornos mais elevados. Desde os tempos de Banco Real, sempre comentei que esse mito de que empresas que possuem uma visão mais ampla, que levam em consideração questões éticas, ambientais e sociais não davam resultado, era um falso dilema. O segundo ponto é a geração dos millenials (nascidos entre os anos de 1980 e 2000), os jovens são cada vez mais conscientes em relação aos assuntos éticos, ambientais e sociais e balizam suas decisões de consumo ou de carreira nesses valores.
O Airbnb, a Patagonia, e também algumas empresas brasileiras são exemplos de organizações que veem a sua atuação hoje, já pensando com olhos do futuro, pois entendem que a sociedade precisa da sua liderança e do seu impacto positivo.
A verdade é que se por um lado as empresas são agentes de transformação da sociedade, por outro elas são transformadas por esse zeitgeitst (o espírito do tempo) que afetam todas as instituições.
* Membro do Conselho da Fundação das Nações Unidas