A presidente Dilma Rousseff envia sinais de que reassumiu o comando da economia ao indicar Nelson Barbosa para o Ministério da Fazenda e se reunir com o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, às vésperas de importante decisão sobre o rumo das taxas de juros. A reputação dos membros de uma equipe pode reforçar ou derrubar a credibilidade da política econômica. Dilma, cuja reputação já era associada ao descontrole de gastos, correu ainda mais riscos quando, em vez de atravessar uma “ponte para o futuro” com o PMDB, preferiu indicar Barbosa, o arquiteto da malsucedida “nova matriz econômica”, para construir sua própria ponte. E sua inoportuna conversa com Tombini descredenciou ainda mais o presidente do BC, que rugia havia semanas e soltou um miado antecipado por Lula e explicado, quem diria, pelo FMI.
A inflação de dois dígitos, a produção em queda livre, a escalada do desemprego e a roubalheira na política não apenas trouxeram a impopularidade ao governo em ano eleitoral, mas também sua quase terminal perda de credibilidade, o que dificulta extraordinariamente suas iniciativas de escape à crise. E a reputação dos personagens, construída por seu próprio desempenho no passado, decididamente não contribui para a formação de expectativas favoráveis quanto à política econômica futura.
As expectativas adversas aumentam enormemente os custos sociais das tentativas de estabilização. A falta de credibilidade do governo e a má reputação dos membros de sua equipe econômica realimentam a inércia inflacionária, resultando em maior queda da produção e do emprego. O cenário torna-se pior ainda quando, apesar das evidências de descontrole e falta de transparência nos gastos públicos, o governo recorre ao aumento de impostos, aprofundando a recessão e o desemprego.
Sem um ataque frontal ao excesso de gastos públicos, mesmo que a presidente consiga vencer a batalha política contra seu impedimento, estaremos condenados a uma “sarneyzação” de seu segundo mandato. Quando a capacidade de cooptação da classe política excede a competência no trato da economia, a duração do governo acaba sendo longa demais. Só que, desta vez, experimentaremos uma nova face de nossa tragédia econômica: o desemprego em massa em lugar da hiperinflação.
Fonte: “O Globo”, 25 de janeiro de 2016.
No Comment! Be the first one.