A prisão de Michel Temer, solto nesta segunda-feira (25), colocou o Brasil em destaque nos noticiários internacionais. Ao lado de Lula, o ex-presidente integra a lista dos grandes nomes da política brasileira que já foram presos pela Lava Jato. Segundo alvo da operação deflagrada na última quinta (21), o ex-ministro Moreira Franco também foi liberado no início dessa semana, contribuindo para que o Rio de Janeiro atingisse um recorde alarmante: em menos de três anos, cinco ex-governadores vivos e eleitos estão ou estiveram atrás das grades.
Para muitos brasileiros, assistir à prisão de tantos figurões da política ainda é algo novo. De um lado, vemos um fortalecimento das instituições no Brasil. De outro, uma transformação na própria sociedade. Em entrevista ao Instituto Millenium, o cientista social Simon Schwartzman reforça que há uma mudança de comportamento entre as pessoas, no que diz respeito à aceitação da corrupção:
“Uma parte da população brasileira começa a sentir que essa situação é algo que acaba fazendo mal a todos. A tolerância diminui. Há uma reação que aparece tanto no comportamento eleitoral, quanto na atuação de setores das instituições, o caso da própria Política Federal e do Ministério Público”, acrescenta Schwartzman, salientando que as prisões indicam que as instituições do país estão funcionando de maneira adequada. “É uma pena que pessoas que tiveram posição de destaque estejam nessa situação, mas é algo positivo do ponto de vista da democracia”. Ouça a entrevista completa no player abaixo!
Segundo Schwartzman, um dos grandes efeitos nocivos da corrupção na coesão social é a forma que afeta a confiança dos cidadãos, considerada fundamental no mundo moderno. “Em uma sociedade onde existe confiança, você tem mais condições de organizar a economia, ter investimentos de longo prazo e de criar instituições mais sólidas. Sem essa base, as pessoas tendem a ter um comportamento predatório, com benefício imediato pessoal, que não beneficia a todos”.
O combate à corrupção
O funcionamento adequado do Judiciário, embasado em uma legislação que o torne mais efetivo e com capacidade de punição necessária, é um dos pontos principais apontados por Schwartzman para combater à corrupção. O especialista também cita a transparência dos atos públicos como peça-chave neste processo. Outra questão importante, segundo o cientista social, é a redução do tamanho do Estado às suas funções fundamentais:
“Corrupção é o uso indevido do recurso e do poder público. Se você tem um Estado grande demais, que dispõe na vida das pessoas uma infinidade de aspectos, isso cria situações de alguns tentarem enganar, escapar ou manipular esse controle, ou fazer disso um benefício próprio”, acrescenta Schwartzman, destacando a importância da educação. “Na medida em que formamos pessoas capazes de trabalhar, de desenvolver uma competência e entender como funciona a sociedade, elas vão ter mais interesse em um comportamento em longo prazo. Vamos supor: um médico que deseja fazer uma careira não vai querer enganar o paciente, dar um remédio indevido, ou fazer algo que atrapalharia sua reputação. Ao capacitar as pessoas, a educação faz com que valha mais a pena ter um comportamento ético”.