Continuamos empacados nas nossas limitações estruturais e nos variados ruídos gerados pelas políticas econômicas dos últimos anos. Nas primeiras, destaquemos a baixa produtividade e competitividade da nossa indústria, em decorrência de uma série de dificuldades enfrentadas, como o nocivo ambiente de negócios, o custo financeiro altíssimo, o “nó burocrático” na abertura de novos negócios, a incidência de excessiva carga fiscal na cadeia produtiva, a baixa qualificação da mão de obra, dentre outros.
Sobre isto, uma recente pesquisa divulgada pelo IMD, escola de negócios da Suíça, com o chamado Índice de Competitividade Mundial, mostrou que o Brasil perdeu três posições neste ano contra o anterior, agora em 54º lugar, num universo de 60 países analisados. Em quatro anos, entre o fim do mandato do presidente Lula e o início de Dilma Roussef foram 16 posições perdidas. Segundo a pesquisa, nos anos anteriores, o Brasil caiu porque outros países avançaram. Em 2014, porém, isto não ocorreu. Perdemos posições pelos nossos erros, “como o aumento de custos provocado pela inflação e a baixa inserção do país no comércio exterior, fator que tem feito as empresas brasileiras perderem participação no mercado internacional em meio à concorrência com os importados”.
Em relação às políticas econômicas desastradas são consensuais os ruídos gerados por medidas voluntaristas e erráticas do governo, mais retraindo do que atraindo os investimentos e novos negócios. Dentre os erros na política econômica, devemos destacar a teimosia do governo em estimular o consumo, em detrimento dos investimentos.
Nos últimos anos foram adotadas políticas de estímulo ao consumo, como “políticas de transferência de renda”, reajustes reais do salário mínimo, outras políticas de renda, o que manteve o desemprego em patamar baixo, sem atrair novos investimentos que pudessem responder a esta demanda mais forte. Isto foi decorrente dos variados ruídos gerados pelo governo, assustando os agentes econômicos. Pesquisas de confiança divulgadas na semana passada confirmam este quadro. Entre abril e maio, os índices de confiança dos serviços, da indústria e do consumidor, recuaram 5,7%, 5,1% e 3,3%, respectivamente, mostrando certo cansaço da sociedade diante dos últimos acontecimentos (aumento da violência, protestos, inflação, intervenções do governo, corrupção, etc).
O crescimento pífio do PIB neste primeiro trimestre também nos ajuda a explicar este quadro. Conseguimos crescer menos do que no trimestre anterior, apenas 0,2% contra 0,4% no quarto trimestre do ano passado (dado revisado pela nova metodologia do IBGE. Antes, 0,7%). Com isto, aumenta a possibilidade de um crescimento fraco neste ano, próximo a 1,6%, podendo até recuar a 1,0% ao fim de 2015. Em 2013, o crescimento foi de 2,5% (depois da revisão).
Como explicar desempenho tão pífio? Poderíamos enumerar uma variedade de fatores, tanto conjunturais como estruturais (repetindo os ditos acima), mas nos atemos aos indicadores das Contas Nacionais em análise a seguir.
Desempenho do PIB no primeiro trimestre – Crescimento ficou dentro das nossas estimativas (0,2% contra o trimestre anterior). Agropecuária cresceu 3,6%, estimulada pela boa safra deste ano, serviços 0,4% e indústria recuou 0,8%. Contra o mesmo trimestre do ano passado, crescimento do PIB foi maior, 1,9%, ainda tendo como destaque a Agropecuária, crescendo 2,8%. Pelo lado da demanda, chama atenção o baixo desempenho dos investimentos, recuando 2,1% em ambas as bases de comparação, reforçando a queda de confiança dos empresários ao ambiente de incertezas atual.
Indústria perdendo participação – A perda de participação da indústria nacional é uma tendência nos últimos anos. No passado já chegou a mais de 35% do PIB, hoje não passa de 13%, segundo o IBGE. Isto se reflete na perda de eficiência do setor, invasão de importados (com destaque para os chineses), câmbio em desalinho, assim como pelo avanço do setor de Serviços, hoje representando 69% do PIB. Cabe ressaltar também que este é um fenômeno mundial que ocorre muito mais pelo lado dos países desenvolvidos, com filiais de empresas se descolando para países mais atrasados, onde o custo da mão de obra é mais baixo. Tem-se, portanto, uma série de empresas, principalmente de bens duráveis e semiduráveis, setores intensivos em mão de obra, deslocando seus parques fabris para países da Ásia e África.
Consumo e investimentos – O consumo privado (das famílias) se manteve crescente nos últimos anos, mas recentemente perdeu força e se acomodou num patamar mais baixo, diante da política de aperto monetário do BACEN, do aumento do endividamento das famílias e do esgotamento do ciclo de crédito, com as pessoas deixando de comprar produtos, como a “linha branca’, por exemplo, por já o terem feito no passado.
Pelo lado dos investimentos, a desaceleração recente se explica pela desconfiança dos agentes em relação ao ambiente econômico e regulatório atual. No primeiro trimestre, a taxa de investimento recuou a 17,7% do PIB. Um indicador a reforçar isto foi o consumo aparente de máquinas (produção doméstica mais importações menos exportações), segundo a ABIM, recuando 14% no primeiro trimestre contra o mesmo período do ano passado. Somado a isto, o recuo do setor imobiliário, também ajuda a explicar este fato. O segmento de construção civil tem peso de 45% na taxa de investimentos e no segmento residencial houve forte desaceleração nos períodos recentes, com as construtoras queimando estoques.
Comentários finais– Podemos concluir, portanto, que esta perda de força do PIB em 2014 reforça o esgotamento do modelo sustentado pelo consumo, além dos ruídos gerados pela má qualidade na governabilidade e pelo acirramento das posições políticas com as eleições.
Como o governo não consegue passar confiança (ou segurança) aos investidores, nas várias concessões e projetos anunciados, a oferta segue fraca, reforçando o desbalanceamento diante de uma demanda ainda alta. Com o consumo excessivo, tanto do setor privado como do governo, a poupança interna se manteve com desempenho sofrível, recuando a 12,7% do PIB no primeiro trimestre deste ano, assim como os investimentos, a 17,7%.
Neste cenário, neste ano o crescimento do PIB deve “patinar” entre 1,6% e 1,8%, possivelmente, devendo recuar em 2015, devido às perspectivas de ajustes, como a rodada de reajustes de preços administrados e as reformas tão urgentes e tão pouco executadas nos últimos anos.
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