Os processos movidos por acionistas exigindo indenizações por perdas com corrupção e informações supostamente falsas devem dar dor de cabeça à Petrobras por bastante tempo, mas isso está longe de ser a maior fonte de estragos financeiros da estatal, segundo um levantamento obtido pela Reuters.
Segundo o estudo da consultoria europeia Management & Excellence, processos civis, trabalhistas, tributários, entre outros, devem render à estatal um custo de US$ 59 bilhões, sem contar eventuais indenizações que a empresa venha a ter que pagar por processos movidos por investidores nos EUA, por conta do escândalo de corrupção investigado pela Lava Jato.
O valor corresponde à soma de processos que a própria empresa reconheceu como perdas prováveis no balanço do primeiro semestre. Só em causas tributárias, a maior fonte delas, a perda esperada pela estatal supera US$ 31 bilhões.
A conta da consultoria inclui também US$ 17 bilhões relacionados à baixa contábil feita pela empresa, principalmente em ativos de refino, devido a valores inflados por sobrepreços pagos às construtoras das obras.
Processo civis e trabalhistas devem responder por pouco mais de US$ 8 bilhões em perdas.
Para efeito de comparação, o valor de mercado da companhia era de US$ 31,4 bilhões, segundo dados da BM&FBovespa referentes ao valor de fechamento de quarta-feira.
‘Ervas daninhas estão crescendo’
— A governança ruim causou problemas em várias frentes para a Petrobras, não apenas a corrupção. As ervas daninhas ainda estão crescendo e o problema está longe de terminar — disse à Reuters William Cox, sócio-fundador da M&E.
Procurada, a Petrobras não comentou o assunto até a publicação desta reportagem.
A Management & Excellence foi fundada em 2011 e é especializada em análise de desempenho financeiro e de governança corporativa. A empresa criou índices formados por ações de empresas com melhores desempenhos nessas esferas, em parceria com a Euromoney e a Bolsa de Hong Kong.
Em 2008, as perdas legais”esperadas pela Petrobras no fim de 2008 somavam US$ 379 milhões, segundo Cox. Isso significa que o montante cresceu 155 vezes desde então.
Talvez uma notícia ainda pior seja o fato de que a provisão da companhia para cobrir esse tipo de perdas não só não cresceu, como mais recentemente diminuiu. O provisionamento, que era de US$ 1,54 bilhão em junho do ano passado, caiu para US$ 1,43 bilhão no fim do primeiro semestre deste ano.
Em geral, as provisões de grandes empresas oscilam entre 5% a 10% do equivalente às perdas esperadas. O percentual da Petrobras, que era de 6% no fim de 2008, caiu a 2,4% em junho último, segundo a M&A.
Posto de outra forma, a perda esperada pela Petrobras corresponde a 225% de sua posição de caixa atual, US$ 26,2 bilhões.
— É o maior nível que eu já vi na vida numa empresa de grande porte, após revisar os números de centenas delas no mundo todo —disse Cox.
Para o consultor, esses números deixam em segundo plano os processos de acionistas dos quais a Petrobras é alvo nos EUA. Isso porque, situações parecidas como as que envolveram os colapsos dos grupos de energia e telecomunicações Enron e WorldCom renderam entre US$ 6 bilhões e US$ 7 bilhões em indenizações a acionistas.
A estatal também pode ter custos adicionais para encerrar processos por investigações criminais e civis nos Estados Unidos sobre seu papel no escândalo de corrupção. Em agosto, a Reuters publicou que essa cifra seria de ao menos US$ 1,6 bilhão.
Fonte: O Globo.
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