A desvalorização do câmbio nas últimas duas semanas vai se revelar “café pequeno” em comparação às turbulências que podem ocorrer nos próximos meses se o mercado financeiro concluir que as reformas não serão realizadas. A avaliação é de Fabio Giambiagi, chefe do Departamento de Pesquisas Econômicas do BNDES.
“Aquela alta do dólar de 15 dias atrás é café pequeno diante do tamanho da confusão pode ter pela frente, em algum momento entre setembro e março do ano que vem, se cair a ficha do mercado de que haverá zero de reformas. Então, é importante que isso fique claro”, disse o economista, durante evento realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no Rio.
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Giambiagi fez o alerta ao comentar os cenários traçados na Estratégia Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, planejamento lançado pelo governo em junho que se propõe a traçar cenários para o crescimento do país ao longo dos próximos 12 anos. A crítica é que o plano não inclui um cenário sem a ocorrência de reformas.
“É importante que isso fique claro, porque a impressão é que 99% das pessoas ignoram esse risco, de que podemos estar na iminência de uma confusão muito grande, que pode levar a cenários extremos, que a imaginação está livre para avaliar”, disse o economista do BNDES.
De acordo com o documento, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode crescer 2,3% ao ano, até 2031, considerando um cenário com reformas que viabilizam o equilíbrio fiscal, mas sem reformas microeconômicas. Num cenário mais otimista, com reformas mais amplas no país, o PIB cresceria em ritmo mais acelerado, de 3,9% ao ano.
“Não sei se há espaço para incorporar [um cenário mais negativo], mas é preciso passar para a sociedade que há o cenário do desastre”, disse o economista.
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Giambiagi também comentou as críticas à atuação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio. Para ele, sem a atuação da autoridade monetária, a desvalorização do real frente ao dólar seria ainda mais intensa. “O governo vendendo um caminhão de swaps e o câmbio foi de R$ 3,30 a R$ 3,90 hoje. Imagine sem essa política”, indagou.
Diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Souza Junior disse que o documento também trata de cenários alternativos, mas sem quantificá-los.
Fonte: “Valor Econômico”