O debate político brasileiro está sendo perigosamente radicalizado. O movimento ainda não tem um fim definido, mas a sua simples existência é sintoma dolor de que algo vai mal e exige atenção. Ora, é sabido e ressabido que a democracia necessita da livre troca de ideias para o pacífico abrir de suas flores; quando o diálogo cede, o terreno democrático perde irrigação, comprometendo a saúde e o sabor de seus frutos. Nesse contexto, para bem atingir suas altas finalidades públicas, a Constituição Federal de 1988 consagrou a liberdade de manifestação do pensamento como pedra angular do desenvolvimento político brasileiro. E pensamento, como obra sublime da razão, não é ofensa, insulto ou qualquer tipo de violência verbal.
Ocorre que alguns grupos minoritários acham que têm o monopólio da verdade e, quando democraticamente confrontados, em vez do rebate argumentativo preferem atacar a pessoa que fala e, ato contínuo, tachá-la disto ou daquilo. Por exemplo, quem defende o heterossexualismo é homofóbico; quem critica cotas é racista; quem defende a Igreja é fanático; quem defende o casamento e a família é conservador; quem critica ciclovias em vias expressas é um filhote da indústria automobilística; quem defende a polícia e critica bandido é torturador. A lista é longa e por aí vai. Mas o que é isso? Até onde a intolerância vestida de boas intenções quer chegar? Na verdade, os novos radicais vivem em fantasias de cordeiro, mas, quando acuados por argumentos de razão, reagem como lobos raivosos. Convenhamos, está chegada a hora de elevarmos o debate político no Brasil.
Democracia, em vez de discursos de ódio, precisa de palavras de compreensão. O fato de alguém divergir revela apenas o natural e necessário pluralismo da vida em sociedade e, não, um inimigo a ser banido ou humilhado. Infelizmente, muitos daqueles que, para consumo externo se dizem abertos, simplesmente não toleram conviver com ideias contrapostas, fechando-se para a reflexão crítica.
Gostando de mulher ou de homem, sendo negro ou branco, andando de carro ou de bicicleta, casados ou solteiros, somos simplesmente seres humanos que, no atual momento histórico, estamos a passar por esta vida e, por assim ser, temos que buscar contribuir para o aperfeiçoamento da humanidade. Politicamente, como cidadãos, precisamos investir na via da compreensão mútua, do diálogo permanente e na ativa participação democrática. A intolerância e o radicalismo, ao contrário de poder, revelam fraquezas. Logo, a fortaleza da democracia está no respeito ao outro, na universalidade do pensamento e na garantia da liberdade individual. A questão é que ser livre é um profundo problema para governos tacanhos. Falando nisso, estão a escutar os ecos do autoritarismo?
Fonte: O Estado de Minas
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