A incompetência governamental, a falta de melhoras estruturais sensíveis e a proliferação de esquemas corruptos geram uma crescente erosão da crença democrática. Mundo afora, a ideia de que o poder emana do povo parece não passar de uma utopia irrealizada. Infelizmente, a crueza da realidade desnuda um jogo de cartas marcadas que faz do voto um mero aval popular para mentiras em trajes oficiais. No crepúsculo de cada ciclo eleitoral, vemos a democracia perder sua capacidade de inspirar transformações virtuosas e, por consequência, significar algo de bom na vida das pessoas.
Ao descrever o que chamou de uma época de “vulgaridades triunfantes”, o filósofo espanhol Javier Gomá Lanzón assinalou que é preciso dar um ideal à democracia, ou seja, uma proposta de perfeição humana, que assinala uma direção ao cidadão, iluminando sua experiência individual com uma oferta de sentido a mobilizar as energias latentes em uma sociedade política.
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Dessa forma, o resgate da credibilidade da política é uma necessidade inadiável em nosso país. A questão é que só há credibilidade com líderes confiáveis. E só se confia em quem, além de falar a verdade, transforma palavras em atos que pulsem. Não basta apenas criticar; temos que ir para o jogo, vestir a camisa da democracia e mostrar que os problemas da realidade tem solução.
Por tudo, a pauta que nos cabe é iniciar um urgente trabalho de convocar os bons e capazes cidadãos à causa democrática. Pessoas que, ao invés de fazer fortuna na política, queiram simplesmente contribuir para o bem do Brasil. Aliás, fazer o bem é o maior ideal da democracia. Um ideal que é amplamente majoritário nos lares da família brasileira. Logo, não podemos mais deixar que a indecência de poucos prejudiquem a existência de muitos. A vida é de quem faz, sendo a democracia uma arte que se realiza vivendo. Emparedados pela coragem de viver, alguns optam pela covarde apatia de apenas deixar ir. E você, vem ou já se deixou levar?
Fonte: “Zero Hora”, 24/10/2017
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