A hesitação dos partidos da base em aprovar a reforma da Previdência pode custar caro ao governo Temer e muito mais caro ao país.
As taxas de juros, que já estão em forte queda pelo desabamento das expectativas de inflação, poderiam cair muito mais rápido pela garantia de desarme do endividamento público em bola de neve que resulta do atual descontrole sobre os gastos previdenciários.
A tímida recuperação ensaiada pela atividade econômica receberia ventos extremamente favoráveis. Pois uma desaceleração simultânea nas trajetórias das despesas fiscais com a Previdência e com os juros da dívida deflagraria um círculo virtuoso de maior controle de gastos públicos, juros em queda, reversão da queda do dólar, mais estímulo aos investimentos e às exportações, recuperação da economia e do emprego, com aumento orgânico de arrecadação tributária.
Se o presidente quer avançar com as reformas e não teme a impopularidade, precisa encaminhar com seus aliados a aprovação dessa proposta “fechando questão” dentro de seu próprio partido e também entre os partidos de sua base de apoio parlamentar. Em matéria tão decisiva para o futuro das finanças públicas, é imprescindível essa cláusula de votação partidária em bloco. É claro que esse ajuste fiscal na Previdência não é a reforma ideal.
Que deveria exibir no mínimo um gradual nivelamento dos benefícios recebidos pelos próprios congressistas, militares e funcionários públicos, quando comparados aos recebidos por nossa população de idosos. Fingir lutar pelos menos favorecidos sem abrir mão de seus privilégios é demagogia sem nenhum apoio na aritmética dos orçamentos públicos ou na ética republicana.
A temperatura vai subir substancialmente com o avanço das investigações da Lava-Jato sobre os praticantes da Velha Política. Existem agora duas possibilidades abertas para essas criaturas do pântano, sejam políticos corruptos ou piratas privados. São as clássicas soluções da moral estabelecida pela civilização judaico- cristã.
A primeira é confessem e se arrependam em busca do perdão, contribuindo por colaborações premiadas com nosso aperfeiçoamento institucional. A segunda, para psicopatas antissociais e ladravazes incorrigíveis, é a danação eterna, com cadeia e ostracismo na cidade dos homens.
Fonte: “O Globo,13 de março de 2017”
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