É inescusável a influência da política econômica no comportamento dos eleitores. Essa estreita relação de causa e efeito poderá ser avaliada mais uma vez no próximo mês de novembro quando os americanos forem às urnas eleger seu presidente.
O maior eleitor naquele dia já terá depositado seu voto alguns meses antes do pleito: o banco central dos Estados Unidos, conhecido como Fed.
O presidente do Board da Reserva Federal, Ben Bernanke, tem o poder de influir decisivamente no humor dos cidadãos eleitores por meio de mais uma rodada de afrouxamento monetário, atualmente em discussão atrás das paredes da instituição.
O Fed já operou duas rodadas de afrouxamento desde o início da crise. Na primeira, em 2008-09, comprou dívida hipotecária em volume assustador: US$ 1,25 trilhão. E somou a isso mais US$ 300 bilhões em dívida do Tesouro. Na segunda rodada de afrouxamento, comprou mais US$ 600 bilhões em Treasuries.
Isso ocorreu no segundo semestre de 2010, propiciando novo alento à economia americana, que durou cerca de um ano.
Novos sinais de estagnação do consumo e na geração de empregos estimula conversas de que o Fed vai agir até setembro, quando se reunirá de novo o Comitê da Política Monetária.
Algumas vozes chegam a propor que o Fed faça algo diferente e ainda mais ousado, anunciando uma meta de inflação de 3%, saltando dos 2% atuais. Com isso, daria um sinal aos mercados de estar disposto a inflar o meio circulante até produzir mais inflação e, com esta, reduzir o valor real das dívidas existentes, inclusive a do próprio governo.
A questão é saber se a força do remédio seria suficiente para deflagrar o que Bernanke chama de “velocidade de escape” – termo confuso, bem à moda de economistas à procura de um novo jargão para a mìdia – e que invocaria a ideia de uma escapada da economia, correndo da estagnação de que está ameaçada.
A verdade é que um grave problema fiscal de elevado déficit público e de excesso de endividamento não se pode abordar eficientemente sem mexer na estrutura de gastos e dos tributos cobrados da sociedade.
Obama evitou atacar o problema central do desequilíbrio público de frente e seu adversário eleitoral republicano – Mitt Romney – se apresenta como detentor de uma fórmula de saída para a economia. Esta será a essência do debate entre os candidatos. Pelo visto, nem um nem outro tem qualquer fórmula mágica. Tudo dependerá do humor do eleitor em novembro.
Daí a importância da ação precedente do Fed. Se este agir afrouxando as condições monetárias até setembro, melhorarão substancialmente as chances de Obama, mesmo que a nova rodada de injeção de dinheiro não represente efetiva geração de riqueza para os americanos, funcionando mais como uma morfina que alivia a sensação de empobrecimento.
O Brasil tem muito a oferecer ao Fed em termos de experiência quando usou extensivamente o mecanismo de produzir inflação para contornar um desequilíbrio fiscal grave e politicamente difícil de abordar de frente.
Com isso, empobreceu o país, enganando os cidadãos. Mas a conta foi amarga: duas décadas perdidas e a perda da vitalidade dos setores mais competitivos da indústria instalada anos antes.
O povo americano está diante de um curso de acontecimentos bastante semelhante ao que nos custou, como brasileiros, o esforço perdido de uma geração inteira.
Fonte: Brasil Econômico, 27/07/2012
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