Uma agenda carregada nesta semana que passou (dias 26 a 30/10). Nos mercados, a volatilidade acabou sendo uma constante, com o Ibovespa chegando a cair 7,5% em dois dias, para depois se recuperar em 5,9%, mesmo que não sustentando esta alta na sexta-feira. Nossa opinião é de que o mercado se encontra numa área de congestão, com muitos considerando o atual patamar já muito alto, não justificando novos picos.
Há de se lembrar também o IOF sobre as operações em bolsa e em renda fixa, na semana anterior e desde então acabou provocando uma saída líquida de US$ 2 bilhões por parte dos investidores estrangeiros. Neste caso, vem contribuindo o temor de novas medidas visando o controle deste capital entrante. Mesmo assim, ainda não evitou, embora tenha amortecido um pouco, a apreciação cambial em curso, já em torno de 25,6% no ano, com o dólar já próximo a R$ 1,73.
Embora haja controversas sobre este e outros temas, a verdade é que os efeitos deletérios da crise já começam a perder força, o que se refletiu no PIB norte-americano do terceiro trimestre deste ano, assim como em outros indicadores e fatos relevantes divulgados na semana que passou. Tivemos a ata do Copom sem grandes novidades, os dados fiscais domésticos mantendo tendência de deterioração e repercutiu favoravelmente a decisão do governo em prorrogar o IPI para a “linha branca”, agora mantida até o dia 31 de janeiro.
Na ata do Copom não tivemos grandes novidades, com os perigos inflacionários considerados fracos, embora a postura do BACEN tenha se mantido cautelosa. Neste ano, o juro deve se manter estável, já que “as pressões inflacionárias se encontram contidas”, mas em relação ao ano que vem uma luz amarela se acendeu, em função da preocupação com as contas fiscais. Sendo assim, dois foram os fatores de risco citados: como amortecer os mecanismos de reajuste e de financiamento diante da explosão do crédito e alta das commodities, e como monitorar o impulso fiscal, com a demanda agregada podendo evoluir acima do esperado.
Sendo assim, o BACEN acaba se mostrando mais cauteloso, em linha com o mercado que elevou a taxa de juros de 2010 para 10,5%, em função do aumento das despesas públicas e da demanda privada, mesmo que a capacidade ociosa ainda seja considerável.
Sobre os dados fiscais de setembro acabaram bem aquém do esperado, com um déficit de R$ 5,8 bilhões, decorrente, em especial, do aumento das despesas previdenciárias e do pagamento da primeira parcela do 13º salário dos servidores públicos. Isto, aliás, vem sendo o ponto frágil deste governo, pouco mobilizado na qualidade dos seus gastos públicos, na sua maioria concentrados em despesas com pessoal e em custeio, com os investimentos a reboque do empacamento do PAC. Este pode ser considerado o pior resultado mensal desde 1997, sendo que no ano o superávit é de R$ 37,7 bilhões, cerca de 1,7% do PIB, já bem menor que a meta fiscal de 2,5%. Em 12 meses, o superávit é de R$ 34,7 bilhões, totalizando 1,17% do PIB, com o resultado nominal registrando R$ 127,4 bilhões, ou 4,29% do PIB, e R$ 87,4 bilhões no ano (3,93%).
Neste ano, pelo lado do governo central, as despesas totais avançam 16,1%, com o item Pessoal crescendo 16,5%, e às de Custeio 20,4%, com Investimentos atrás, crescendo 12,7%. Já a arrecadação segue fraca, recuando 2%. Observa-se daí, que o governo, em momento de crise, vem inventando uma política anticíclica toda própria, sustentando sua política fiscal com expansão de gastos permanentes, ao contrário do certo que deveria ser avançar nos temporários.
Em complemento a isto, devemos saudar a decisão de prorrogar a isenção fiscal para a linha branca, com o IPI mantido baixo para os produtos com baixo consumo de energia elétrica.
Finalmente, repercutiu favoravelmente nos mercados o desempenho do PIB norte-americano, avançando 3,5% no terceiro trimestre, depois de recuar 0,7% no trimestre anterior, tirando a economia norte-americana da recessão.
A corroborar para este bom desempenho, o consumo pessoal, avançando 3,4%, bem maior do que no trimestre anterior (-0,9%), os gastos públicos e o aumento das exportações. No caso do consumo privado, há de se destacar a estagnação da renda disponível, recuando 0,5% no período em análise, o que pode ser um sinal de que este impulso do consumo só foi possível em função das medidas de estímulo aos gastos, como os subsídios para a compra de automóveis e de imóveis.
A dúvida, no entanto, é saber se este crescimento é sustentável, já que a deterioração no mercado de trabalho segue ocorrendo. A taxa de desemprego, pelos dados de agosto, foi a 9,8% da PEA e deve passar de dois dígitos nos próximos meses. Com isto, a renda acaba impactada, o que torna os consumidores mais cautelosos, no receio de se endividar. Aguardemos os novos lances, mas parece-nos claro que esta retomada deve ainda ser lenta e errática, não havendo elementos consistentes que nos garantam que a recessão já tenha ficado definitivamente para trás. É certo que as medidas de estímulo fiscal ainda devem gerar bons efeitos no desempenho da economia real, mas e depois quando estes se esgotarem? Esta é uma pergunta à procura de uma resposta…
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