A situação do Brasil é “periclitante”, avaliou ao Estado o economista Armando Castelar Pinheiro. “Se não fizermos nada, vamos perder o grau de investimento na Fitch.” Para ele, a agência fez uma alerta adicional. “Estamos deixando de lado o aumento das despesas financeiras.”
Como o rebaixamento da Fitch era previsto, o efeito é menor?
Já havia a expectativa de que a Fitch rebaixaria. Por causa dessa expectativa, as coisas já estavam acontecendo. O crédito externo está ficando mais caro. As empresas já estão sentindo. Mas a Fitch colocou a perspectiva negativa. É uma preocupação adicional. Sinaliza que, se não fizermos nada, vamos perder o grau de investimento também pela Fitch. A situação está periclitante.
Como as notas foram revistas nas três grandes agências, o Brasil tem até o ano que vem para evitar outro rebaixamento?
Normalmente seria assim, mas a regra não é escrita em pedra. A prova disso é que a Standard & Poor’s fez um movimento ágil. Colocou a perspectiva negativa e, rapidamente, a perspectiva virou um efetivo downgrade (rebaixamento). O movimento ocorreu, se não me engano, num intervalo de seis semanas.
Há um fator determinante?
Tudo depende da área fiscal. Da política econômica. O que fez a S&P se mover com rapidez atípica foi o governo enviar ao Congresso a proposta de Orçamento de 2016 com déficit, quando semanas antes havia falado em superávit. Se fizer um movimento semelhante, pode vir outro rebaixamento.
Qual é a sinalização do governo neste momento?
Com o rebaixamento, a Fitch diz que a resposta do governo não é suficientemente forte.
O sr. acredita que o governo agora pode ser mais enérgico?
Seria razoável que tivesse uma reação, como a que demonstrou após o rebaixamento da S&P. Mas temos de considerar que não houve fato novo na capacidade do governo de analisar a realidade. Também já se sabe que a situação fiscal é muito séria. A dívida está subindo numa velocidade muito grande. Infelizmente, o debate não reflete a realidade da situação. O comunicado da Fitch diz isso. Estão dando atenção às despesas primárias, quando neste ano a deterioração foi muito mais forte sobre as despesas financeiras. Há muito pouco debate em torno das razões que levaram o déficit nominal a sair de 3% (em proporção a PIB) para mais de 9%.
Há um grupo de economistas que frisa a necessidade de se ampliar o ajuste, para que inclua uma solução ao déficit nominal…
Isso precisa ser feito urgentemente. O déficit financeiro é muito maior que o primário. Mas estão discutindo apenas o primário. É preciso entender como isso está acontecendo e avaliar se não é caso de se tomar outras medidas complementares à questão do primário. Dentro do primário, a Fitch também realça que o ajuste não pode se limitar ao corte de despesas discricionárias. Se o governo argumenta que o limite para reduzir gastos é pequeno, porque as despesas obrigatórias são maiores, então vamos discutir as despesas obrigatórias. É isso que a Fitch está dizendo. É absolutamente correto.
A Fitch também destacou a questão política…
Sim. A própria base do governo não tem apoiado o ajuste. Quando quem deveria estar apoiando é quem mais bate, fica difícil vislumbrar como a coisa pode evoluir positivamente. Parte da deterioração vem da falta de perspectiva. Nunca houve nas últimas décadas uma situação em que o médio prazo fosse tão pouco visível. Isso é uma peculiaridade preocupante. Como empresas e famílias vão ter confiança se não enxergam como as coisas vão ficar ali na frente?
No Comment! Be the first one.