A última quarta-feira (16) foi um dia muito importante no ambiente político de todo o Brasil: a data marcou o encerramento das convenções partidárias, que escolhem os candidatos a prefeito e vereador em todos os municípios brasileiros. Na prática, isso quer dizer que foi dada a largada para a campanha eleitoral, que começa oficialmente no próximo dia 26. Em entrevista ao Instituto Millenium, o cientista político Murilo Medeiros analisou o cenário, as mudanças na legislação e os impactos da pandemia do novo Coronavírus na disputa eleitoral. Ouça!
Vale lembrar que o calendário eleitoral foi alterado, por conta da covid-19. O primeiro turno está marcado para o dia 15 de novembro; e a segunda etapa, no dia 29 do mesmo mês.
O fim das coligações proporcionais
Mas essa não é a única mudança – e nem é a principal, na verdade. O fim das coligações nas eleições proporcionais é a grande alteração deste pleito. Ou seja: a partir de agora, todas as legendas têm que ter chapa completa, sem compor com outros partidos, para eleger os vereadores.
“Isso vai exigir um reforço redobrado nas legendas, tanto na formação das chapas, quanto na estratégia de campanha. Tudo indica que legendas de pequeno porte devem sumir do mapa em cidades menores. Partidos tradicionais de esquerda, como PT, PSB, PCdoB e Rede podem perder terreno, assim como legendas tradicionais, como PSDB e MDB. Talvez, os maiores vencedores dessas eleições, que ganharão terreno e espaço nas grandes cidades, serão os partidos de centro, como Democratas, PSD, PP, Republicanos e Podemos”, afirmou.
Crise sanitária pode aumentar abstenções
A crise sanitária, a exemplo de outros países, como a França, pode gerar taxas recordes em abstenções pelo Brasil. Para o especialista, a diminuição de votos válidos é um fator de grande impacto nos resultados das urnas.
“O eleitor sem máscara não poderá acessar o local de votação e quem teve febre ou covid-19 nos 14 dias anteriores ao pleito também não poderá votar. Isso vai refletir no resultado eleitoral em alguns municípios, porque o aumento da abstenção facilita a vitória em primeiro turno. Então prefeitos que vão disputar a reeleição tendem a ser beneficiados com esse efeito colateral da pandemia para as eleições de 2020”, explicou.
Mudança qualitativa
Segundo Medeiros, o desejo de renovação observado em 2018, embora ainda presente na sociedade, sofrerá, em 2020, algumas modificações, principalmente por dois fatores: a experiência da última eleição e os reflexos da pandemia.
“A sociedade é muito sábia e já percebeu que trocar apenas de nome não basta. A mudança precisa ser qualitativa. Na última eleição, nós tivemos uma ampla renovação tanto na Câmara quando no Senado, mas foi uma renovação apenas de nomes”, observou.
O protagonismo que a pandemia do novo Coronavírus trouxe aos prefeitos, com destaque nas TVs e rádios locais, e o comportamento historicamente observado de que em crises o eleitor tende a escolher uma liderança conhecida, poderá favorecer quem busca a reeleição, na visão do especialista.
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“A preferência do eleitor estará focalizada na maneira como o mandatário reagiu a crise sanitária. Um julgamento mais forte sob as medidas de isolamento social e também uma pressão maior aos sistemas de saúde e emprego, visto que muitas pessoas foram afetadas no mercado de trabalho”, observou.
Campanha digital
Com o distanciamento social, as tradicionais reuniões públicas e grandes aglomerações serão enfraquecidas. Medeiros avalia, que além da internet, com as redes sociais e aplicativos de mensagens, que já tem se tornado uma ferramenta cada vez mais estratégica em campanhas políticas, a televisão volta a ter papel de destaque.
“O eleitor normalmente decide o voto último instante, na véspera da eleição, por conta das regras de isolamento social. Os debates na TV terão um peso enorme para a definição dos votos, já que é uma oportunidade do candidato apresentar seu programa, ainda mais sem o corpo a corpo nas ruas da cidade”, ressaltou.
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Já quanto ao uso das redes, o especialista reforça que para ter efetividade é preciso ter planejamento e conhecimento das ferramentas.
“É importante pontuar: ter uma rede social bonita não basta! É preciso saber usá-la, a mensagem tem que ser muito bem focalizada e constituída, cabe ao candidato calibrar muito bem discurso, com inteligência, com pesquisa, com método. Ser propositivo, indicar soluções para os problemas públicos nas cidades, ser transparente, austero e verdadeiro, isso vai fazer a diferença no uso das mídias sociais”, finaliza.