Após um retorno tímido no pós-pandemia, o Fórum da Liberdade de 2023 mostrou porque o evento é considerado o maior espaço de debates políticos, econômicos e sociais da América Latina. Mais de 4 mil pessoas, de várias partes do Brasil e do mundo, compareceram nos dois dias de evento, para assistir os mais de 40 palestrantes debatendo a liberdade.
A abertura ficou por conta do padre americano Robert Sirico, co-fundador do Instituto Acton. Ele contou sobre sua conversão ao liberalismo econômico, sobre a fundação do Instituto para combater a Teologia da Libertação e falou sobre as congruências entre o cristianismo e as ideias de livre mercado. “Deus situa os seres humanos num jardim, e não numa selva, porque jardim precisa ser cuidado. Economia é o uso cuidadoso de recursos escassos, para fornecer aos seres humanos suas necessidades”, disse.
Em seguida, um painel com os governadores Romeu Zema (NOVO – MG) e Eduardo Leite (PSDB – RS) superlotou o auditório. Zema foi bastante aplaudido desde o início, e defendeu, dentre outras coisas, que os liberais precisam melhorar a comunicação, para chegar a mais pessoas. Essa também foi a defesa da influencer e produtora rural Camila Telles, sobre o agronegócio, no segundo dia de evento. “O agro não é o culpado dos problemas do mundo. Fizemos tudo certo, mas esquecemos o marketing. O agro não se comunica bem. Ficamos muito tempo calados, mas agora não podemos mais ficar”, disse.
Ao contrário de Zema, Eduardo Leite, foi vaiado em alguns momentos, mas após um discurso alinhado, no qual defendeu privatizações, Lei de Liberdade Econômica, reformas tributária e administrativa, e Marco do Saneamento, também arrancou aplausos da plateia.
O empresário Flavio Augusto e a jornalista Leda Nagle receberam, respectivamente, os prêmios Libertas e Liberdade de Imprensa. “Jovens, corram risco e sejam ambiciosos”, aconselhou o empresário, após contar sua própria história.
A primeira noite de evento foi fechada pelo painel Como uma dose de Liberdade pode mudar vidas, do qual participou o CEO do Instituto Millenium, Diogo Costa. Ele falou sobre a importância de deixar as pessoas fazerem suas próprias escolhas, inclusive, por meio de vouchers sociais para alimentação, saúde e educação. “Escolhas incomodam, porque nós gostaríamos de fazer escolhas pelas outras pessoas. Mas, numa sociedade livre, quem vai arcar com as consequências deve fazer a escolha”, defendeu. O painel também contou com a diretora associada do Centro para a América Latina da Atlas Network, Antonella Marty, e do professor de economia do Cato Institute, Martin Krause.
O segundo dia de evento foi aberto com mais um painel político, do qual participaram o deputado federal Marcel Van Hattem (NOVO – RS), o vice-prefeito de Porto Alegre, Ricardo Gomes, e o jornalista Leandro Narloch. Com o sugestivo título de “Cortem as cabeças”, os participantes fizeram duras críticas ao STF, ao ministro Alexandre de Moraes e à suposta parceria entre o judiciário e o atual governo federal.
Ao final da manhã, foi a vez do agronegócio. Foi a primeira vez que o Fórum da Liberdade trouxe participantes para falar especificamente sobre o tema. Além de Camila Telles, participaram também os ex-ministros Antônio Cabrera e Joaquim Leite, além do Presidente da Expodireto Cotrijal, Nei Cesar Manica. As invasões de terra pelo MST e a sustentabilidade do agro brasileiro foram dois dos temas abordados.
No turno da tarde, o primeiro tema foi urbanismo. Participaram da mesa o urbanista francês Alain Bertaud, o empresário, criador do projeto Free Private Cities, Titus Gebel, e o professor Adriano Paranaíba. Bertaud defendeu um mercado de trabalho livre, assim como as regras urbanísticas das cidades. “O urbanista não pode antecipar as preferências de cada indivíduo. As preferências e motivações são muito diferentes, é preciso deixar as pessoas fazerem suas escolhas”, explicou. Segundo ele, alguma regulamentação é indispensável, mas qualquer regulamentação que limita o espaço em terra, limita o crescimento das cidades. Na mesma linha, Gebel pontuou que as decisões políticas estão se sobrepondo às decisões do mercado (pessoas), e que essas decisões seriam melhor tomadas em escala menor (rua, bairro, comunidade). Ele falou sobre seu projeto de cidades privadas, sobre o qual chegou a lançar um livro. “Tornar livre uma cidade pré-existente é muito difícil, por causa do arcabouço legal que já existe. Por isso, optamos por começar essas cidades do zero”, explicou. Paranaíba fez coro aos colegas de painel e defendeu a ordem espontânea na ocupação de espaços públicos. Para exemplificar, comparou Brasília com cidades da Grécia e Roma.
Ainda à tarde, um painel sobre liberdade de expressão reuniu o CEO do Livres, Magno Karl, a jornalista Madeleine Lacsko e o apresentador e músico João Nogueira (Rasta). Os três criticaram os cancelamentos, que é tema de um livro que Lacsko lançou logo em seguida. Ela anunciou ainda que pretende lançar um instituto para defender a liberdade de expressão. Já Magno, relembrou a livre expressão dos anos 80/90, e pontuou que a mudança ocorreu porque “por causa da internet, nossas bobagens se tornaram eternas”. “A fábrica de cancelamentos vai continuar cancelando, porque é isso que ela faz todos os dias. A gente só sente a dor do outro quando o martelo bate na nossa cabeça”, criticou Magno. Os três também criticaram a Lei das Fake News.
O Fórum teve ainda painéis sobre inovação, moeda e agenda de abundância, além da programação em espaços secundários e seis lançamentos de livros. O Fórum da Liberdade é realizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE). Esta foi a 36ª edição do evento.