Como a tecnologia pode afetar a vida nas cidades? Este foi um dos temas discutidos no 1º Fórum Liberdade e Democracia de Curitiba, organizado pelo IFL local. Um dos participantes do painel, o ex-superintendente de inovação do Paraná, André Telles, citou alguns exemplos de como a inteligência artificial já está afetando positivamente cidades pelo mundo, como semáforos inteligentes para reduzir o trânsito, reconhecimento facial para identificar criminosos, ou análise de dados para tomar decisões.
Ele contou que em Copenhagen (Dinamarca), a prefeitura já utiliza um sistema de iluminação pública com sensores, que aumentam ou reduzem a intensidade da luz de acordo com a necessidade (quantidade de luz natural ou se há pessoas passando pelo local no momento). Já em Amsterdã (Holanda), são usados chatbots para realizar agendamentos e obter informações sobre serviços municipais. Citou ainda o Reino Unido e sua startup de aprendizado, que monitora a evolução dos alunos da rede pública.
Dário Paixão, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação, deu seguimento ao painel, contando um pouco da experiência de Curitiba, suas vitórias e desafios. Ele externou certa preocupação com o futuro dos empregos, já que, segundo ele, de 11% a 23% dos trabalhadores serão substituídos por robôs até 2030, e 60% das atividades de qualquer profissão serão automatizadas. A saída apontada pelo especialista é investir mais no aprendizado e treinamento de soft skills (habilidades pessoais e interpessoais que se referem à forma como interagimos e nos relacionamos com outras pessoas), que seriam a área onde o ser humano teria mais vantagem competitiva em relação às máquinas.
O professor do IFG e Diretor Acadêmico do Instituto Mises Brasil, Adriano Paranaíba, completou o painel. Sua grande preocupação é que os governos utilizem a tecnologia para controlar mais a população. “Vão usar muito mais para detectar o motorista pra multar do que para detectar os buracos e consertar”, opinou. Ele acredita que as cidades serão sim beneficiadas pela inteligência artificial, “só que a IA trazida pela iniciativa privada”. Entre essas possíveis novidades tecnológicas, citou os carros autônomos, para reduzir a quantidade de acidentes de mortes no trânsito.
Outros painéis
O evento ocorreu durante toda a sexta-feira, no Campus da Indústria da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). O primeiro painel, intitulado “Brasil: o eterno país do futuro”, contou com o deputado paranaense cassado, Deltan Dallagnol. Ele falou sobre o processo que vem sofrendo e disse que o enfraquecimento do império da lei é um dos três motivos que têm atrapalhado o desenvolvimento do país. Os outros dois motivos seriam o desenvolvimento de elites extrativistas, criando uma economia de cartéis que engessam a mudança social para se perpetuar no poder, e a promoção de ideias que criam incentivos errados. “A visão de que o indivíduo não é responsável por seus crimes, a luta de classes gerando fragmentação social e o ‘governo grátis’ distribuindo benesses, para que o povo não se rebele”, completou.
O último painel, sobre liberdade de expressão, reuniu o jornalista Leandro Narloch, o fundador do Brasil Paralelo, Henrique Viana, e o presidente executivo da Gazeta do Povo, Guilherme Cunha, que vê o avanço sobre essa liberdade como uma tendência mundial. “Perdemos a capacidade de distinguir liberdade de opinião da narração de fatos. O direito à crítica deveria ser livre”, analisou.
Henrique Viana, por sua vez, relembrou episódios controversos envolvendo decisões judiciais sobre o Brasil Paralelo, como quando teve um episódio proibido de ir ao ar e quando foi chamado a depor sobre suposta articulação com o Google, por aparecer na primeira página de pesquisas sobre o PL das Fake News. “O que está pautando o ímpeto da regulação é se o conteúdo é desfavorável a alguém, e não deveria ser assim”, disse.
Já Leandro Narloch falou sobre as falsas dicotomias do debate público: minorias x liberdade de expressão; segurança x liberdade de expressão e democracia x liberdade de expressão. “Esses temas não estão em conflito, muito pelo contrário”, frisou.