Chegamos ao quinto mês de 2014 e a sensação que se tem é que piora a cada dia a percepção sobre o cenário econômico para este ano e por que não dizer os próximos. Uma variedade de motivações e fatores contribui para isto. Os indicadores seguem deteriorando, os ruídos da política econômica são uma constante, escândalos de corrupção surgem a toda momento, com foco agora na Petrobras, a possibilidade de racionamento de energia cresce diante da escassez dos reservatórios na região Sudeste, e a Copa do Mundo não mobiliza ninguém, pelos vários fatores já citados, mas também pelas obras questionadas de estádios, falta de estrutura, violência em algumas cidades, problemas de mobilidade urbana, ameaças de protestos nas ruas…
Enfim, são variadas as fragilidades expostas e, para contribuir ainda mais para esta nebulosidade sobre o cenário, pesquisas de voto mostram a candidatura governista perdendo apoio e a da oposição, mais Aécio Neves do que Eduardo Campos-Marina, mostrando reação. Além disto, independente do governo eleito, as pesquisas mostram também a urgência de mudanças em várias áreas, como segurança, educação, saúde, saneamento, etc. Em resposta, a presidente até esboçou alguma reação, em discurso para o 1º de maio, anunciando reajustes da Bolsa Família (no seu programa Brasil sem Miséria), do Imposto de Renda Pessoa Física e a manutenção do reajuste do salário mínimo acima da inflação. Pareceu este discurso oportunista (ou populista) e a “conta” desta fatura acabou assustando, chegando a R$ 8,9 bilhões, colocando em dúvida a obtenção da meta fiscal neste ano e no próximo, 1,9% e 2,5% do PIB, respectivamente.
O fato é que o espaço de manobra do governo para reagir a esta crise é cada vez menor. A impressão que se tem é que pela proximidade das eleições neste ano, pouco pode se esperar de ações concretas, a não ser pelas de apelo político-eleitoreiro. Mudanças mais profundas só devem ocorrer em 2015, com muitas inevitáveis, como a necessidade de realinhamento realista das “tarifas públicas”, ou preços administrados, com destaque para combustível e energia elétrica, além de colocar as reformas estruturais na pauta, para nós, algo inadiável.
Sobre os indicadores econômicos, o que se tem ainda é um cenário totalmente indefinido. O ritmo da economia “rateia”, com a indústria acumulando estoques e começando a demitir, a gestão fiscal segue sob desconfiança, com o resultado primário até março tendo chegado a R$ 25,6 bilhões, mas muito em função das receitas de dividendos de bancos oficiais, em 12 meses indo a 1,75% do PIB e o setor externo, impactado pelo rombo da balança comercial, pelas importações de petróleo, e o aumento das despesas de turismo externo. Em 12 meses, até março, o déficit em conta corrente foi a US$ 81,6 bilhões, 3,64% do PIB. Este indicador só não preocupa tanto, porque as reservas cambiais, US$ 377 bilhões e o ingresso de investimentos externos diretos (IED), US$ 65 bilhões, ainda são um “colchão de cobertura” para o déficit. Estes últimos (IED) equivalem a 80% do déficit, sendo o restante em investimentos mais de curto prazo, em carteira. Sobre os preços da economia façamos uma breve análise a seguir.
Comportamento da inflação– Os índices de preços cederam um pouco em abril e devem registrar alguma acomodação em maio, em função do recuo dos alimentos, na sua maioria, in natura, fortemente impactados pela seca do primeiro trimestre (na verdade, neste período chuvas no Mato Grosso impactaram na colheita de algumas commodities, como soja, e seca no Sudeste, os in natura), mas normalizando em abril e agora em maio, por terem um ciclo curto de produção. Itens de pressão, no entanto, continuam no radar, como alguns agrícolas, tendo, como exemplos, café e carne, o primeiro pela safra menor neste ano, e o segundo, pela perda de pastagens, impactando na oferta (gados de corte e de leite). Outros também devem ser lembrados, como os preços dos serviços, como “refeições fora de casa”, empregos domésticos, cabeleireiros, etc, ainda mais com a proximidade da Copa do Mundo, além dos recorrentes reajustes salariais acima da produtividade, reflexo de um mercado de trabalho aquecido e novos segmentos no consumo.
Em contrapartida, o BACEN vem deixando o real se valorizar, tendo registrado 5,1% até abril deste ano, com o intuito de baratear os custos dos insumos importados, derrubando a inflação. Isto, inclusive, pode ser visto no setor eletroeletrônico, muito dependente de componentes importados e mais demandado com a Copa do Mundo (televisores de LCD, por exemplo).
Comportamento da taxa de câmbio– Devemos ressaltar que a valorização atual do real vem ocorrendo em função da ainda presente atuação do BACEN em leilões de swap cambial (venda no futuro), segundo cálculos do mercado, tendo chegado a US$ 88 bilhões desde agosto de 2013, além do chamado carry trade, na qual os fundos globais aplicam no mercado brasileiro visando o ganho de arbitragem entre juro interno e externo, e pelo aumento de captações externas de empresas nacionais, se antecipando ao início das eleições.
Um fator de preocupação, no entanto, é que a partir de maio acontece um processo de reacomodação dos mercados globais, em função do início das férias no Hemisfério Norte (conhecido como sell in may and go away). No ano, até o dia 25/4, o saldo cambial se manteve em bom volume de ingressos líquidos, totalizando US$ 3,37 bilhões. A partir de maio, no entanto, com os motivos expostos acima, além da volatilidade com as eleições domésticas e o ajuste da política monetária do Fed, acreditamos numa mudança gradual do patamar da taxa de câmbio, um pouco acima do atual, entre R$ 2,20 e R$ 2,25 atuais (na média). Esta Consultoria trabalha com um patamar em torno de R$ 2,40 a R$ 2,45 ao final do ano.
Comportamento da taxa de juros– Em resposta a este cenário de inflação “acomodando” um pouco neste segundo trimestre e câmbio mais apreciado, o BACEN considera a possibilidade de uma “parada para ver como fica” no ajuste da taxa de juros na reunião do Copom de maio (dia 28).
Ou deveremos ter mais um ajuste de 0,25 ponto percentual, elevada a taxa a 11,25%, e assim permanecendo até o final do ano, ou então, passadas as eleições, com a necessidade do “tarifaço”, o BACEN deve sancionar mais um ajuste do juro em 0,25 ponto percentual, para fechar 2014 a 11,5%. O que parece cada vez mais concreto é que o BACEN deve dar uma pausa no ajuste do juro em maio. Podemos até considerar esta decisão mais política do que técnica, dado que a inflação, em 12 meses, se aproxima do teto da meta, de 6,5% (6,19% pelo IPCA-15), mas aí já é outra história.
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