A corrupção nas empresas tende a ganhar força em momentos de baixo crescimento econômico. Dados da consultoria ICTS Protiviti apontam que o número de casos de fraude em companhias brasileiras aumentou exponencialmente em um período de quatro anos, à medida em que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do País diminuiu.
A consultoria analisou 92 casos de fraude ocorridos entre 2009 e 2014. A maioria deles – 37 casos – ocorreu em 2013, quando a economia, em desaceleração, se expandiu 2,4%. Em 2010, quando o crescimento do PIB foi de 7,5%, apenas três ocorrências foram relatadas.
Os operadores desses esquemas ocupavam cargos estratégicos nas companhias em que atuavam quando os atos foram cometidos. Eram homens, em maioria, com idade entre 25 e 44 anos e com salário entre R$ 3 mil e R$ 7 mil. Mais da metade dos fraudadores (58%) trabalhava há mais de cinco anos nessas empresas. “As fraudes são cometidas por pessoas tidas como confiáveis”, explica Maurício Reggio, sócio-diretor da ICTS Protiviti. “Daí o fato de esses casos se darem com pessoas que estão há mais tempo nas empresas.”
Considerando pagamento ou recebimento de propina – que somou 60% dos casos -, apropriação indevida de recursos e fraudes em demonstrações financeiras, o impacto total dos atos ilícitos no período analisado foi de mais de R$ 1 bilhão. Os três segmentos mais atingidos foram o de Construção (32% dos casos), Logística e Transportes (19%) e Varejo (18%).
Em tempos de menor desempenho econômico, as organizações tendem a “olhar mais para dentro de casa”, segundo o gerente de inteligência da ICTS Protiviti, Renato Anaia. Responsável pela pesquisa, ele afirma que a corrupção é mais detectada em momentos de crise, pois as companhias passam a observar seus procedimentos com mais atenção nesses períodos.
Anaia também chama a atenção para o aumento progressivo do impacto financeiro dos casos estudados. “A pressão financeira por melhores resultados ou por rendimentos alternativos se acentua em momentos de crise. Por isso, a motivação para cometer fraudes”, explica.
Transparência– Países emergentes apresentam maior tendência para práticas ilícitas. Relatório da ONG Transparência Internacional divulgado em dezembro do ano passado coloca o Brasil em 69º lugar no ranking mundial da corrupção, sendo o 1º lugar – a Dinamarca – o país menos corrupto. A África do Sul está ligeiramente em melhor situação (67ª posição), enquanto Índia (85º lugar), China (100º) e Rússia (136º) vêm atrás na classificação.
Nos negócios, o quadro não é diferente: “A corrupção nas empresas é reflexo de uma sociedade que tem enraizada a prática de vender favores”, diz Renato Anaia. Para Maurício Reggio, o Brasil está em um momento de despertar para o combate aos ilícitos e, por isso, ainda tem um longo caminho a percorrer:
“Ainda estamos aprendendo a usar as ferramentas que o mundo usa”, ele afirma, dando como exemplo a Lei Anticorrupção, que entrou em vigor no ano passado.
Especializado em empresas do setor público, Elias Souza, da consultoria Deloitte, argumenta que a percepção da corrupção no País aumentou porque mais casos foram revelados: “Talvez, no passado, houvesse ainda mais atos desse tipo, mas não há como provar.”
José Paulo Rocha, sócio-líder da área de Finanças Corporativas da consultoria, argumenta que nem sempre os países com maior desenvolvimento econômico estão menos suscetíveis à corrupção, e vice-versa: “A fragilidade das instituições e do Estado é o que aponta para uma maior incidência desses casos, e não diretamente o desempenho econômico do país.”
Fonte: O Estado de S. Paulo
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