Bons exemplos de startups lideradas por mulheres, capacitação em tecnologia e muito apoio das colegas. Esses são os fatores que levam ao aumento do número de empreendedoras à frente de empresas inovadoras, na visão de Maria Rita Spina Bueno. Ela é diretora-executiva da Anjos do Brasil, organização que apoia o investimento anjo no país, e fundadora da MIA (Mulheres Investidoras Anjo), que fomenta a participação das mulheres nos aportes em empresas nascentes. Para Maria Rita, o número de fundadoras de startups tem aumentado, mas ainda é preciso percorrer um longo caminho para enriquecer a diversidade no setor. Na semana em que a ONU (Organização das Nações Unidas) comemora o Dia Mundial do Empreendedorismo Feminino, a especialista falou a “Pequenas empresas e grandes negócios” sobre as mulheres no ecossistema de startups.
Como está a participação das mulheres no ecossistema brasileiro?
Tem aumentado. A brasileira é historicamente empreendedora, mas em negócios de pequeno porte. Como as fundadoras de startups vêm tendo mais visibilidade, outras mulheres se inspiram a construir empresas com alto potencial de crescimento. Elas veem que esse é um caminho possível. Ainda falta muito, mas já temos mais mulheres participando dos times fundadores.
As empreendedoras se concentram em determinadas áreas ou nichos?
Temos empreendedoras em diversos setores de atuação. Normalmente, elas começam negócios em áreas que conhecem ou em que já trabalharam. Isso é ótimo porque elas trazem uma experiência de mercado que ajuda muito no desenvolvimento do projeto. Existe um mito de que mulher só empreende em áreas vistas como tipicamente femininas, o que não é real. Tenho visto vários projetos em agritech e fintech liderados por mulheres, por exemplo.
A educação pode estimular as mulheres a empreender mais com tecnologia?
A educação é fundamental para empreender. As mulheres compreendem a relevância da tecnologia para os negócios de alto potencial, mas muitas vezes se sentem perdidas nesse campo. Por isso, a capacitação em tecnologia ajuda muito. A empreendedora não precisa se tornar uma expert – ela não irá necessariamente fazer o desenvolvimento. Mas precisa entender disso o suficiente para liderar e definir os rumos do projeto.
Mesmo ecossistemas mais maduros, como Estados Unidos e Israel, precisam de iniciativas para encorajar mulheres a trabalhar com tecnologia – a “codar”. Por que essas mudanças demoram a acontecer?
Essa é uma questão muito complexa e, no meu ponto de vista, ligada à educação que damos para as meninas desde cedo. Não mostramos exemplos de mulheres em tecnologia e dizemos que isso é “coisa de menino”. As meninas não veem esse caminho como um futuro possível. Depois disso, fica mais difícil escolher uma carreira ligada à tecnologia. E, quando elas escolhem esses cursos, entram em um universo muito masculino, no qual nem todas conseguem ficar.
Como está a participação das mulheres como investidoras?
O percentual de mulheres investidoras anjo praticamente dobrou no último ano. A pesquisa da Anjos do Brasil apresentada no Congresso de Investimento Anjo em junho de 2016 mostrou que passamos de 5% para 9%, o que é incrível. Ainda assim, é um percentual muito baixo, já que somos metade da população e o número de mulheres com capacidade de investir é bem maior do que isso. Muitas mulheres desconhecem o que é investimento anjo, mas se animam a contribuir quando entendem que investir em startups inovadoras traz um retorno pessoal tão relevante quanto o financeiro.
Quais são as características que as mulheres podem trazer ao ecossistema como mentoras e investidoras?
Diversidade agrega valor aos times. Além disso, as mulheres têm uma estrutura de análise e visão de mundo que costuma ser diferente da dos homens. Mulheres normalmente são boas para escutar, o que é o primeiro passo para ser um bom mentor. Elas também conseguem avaliar bem o contexto no qual as relações se desenvolvem. Isso as torna excelentes investidoras em projetos de startups, nos quais as parcerias são tão importantes.
Quais dicas você dá a uma mulher que queira começar a empreender com tecnologia?
Conecte-se com outras mulheres que também estejam empreendendo na área. Assim, ela conhecerá mentoras e colegas que estão passando pelas mesmas alegrias e tristezas e poderá compartilhar suas questões e sucessos. A ajuda entre mulheres é um dos maiores trunfos que temos no empreendedorismo. A segunda dica é não buscar a perfeição e ser menos crítica consigo mesma. Muitas só querem mostrar seus trabalhos quando consideram que o negócio está totalmente pronto. Mas, nas startups de tecnologia, é preciso aprender pelo erro.
Fonte: “Pequenas empresas e grandes negócios”, 18 de novembro de 2016.
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