Tenho apontado três fatores fundamentais do amadurecimento político e social do Brasil: o demográfico, o geográfico e o macroeconômico. Com a escolha do Brasil e do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, na esteira da Copa do Mundo de 2014, acabo de acrescentar mais um fator aos três fundamentos da “nova” economia brasileira: o fator olímpico. O calendário sequencial Copa-Olimpíada representará forte elemento de influência no imaginário da população e poderá motivar nossos líderes a também obter melhores marcas de desempenho.
O Brasil vive uma conjunção de potentes fatores de sucesso. O fator demográfico, amadurecimento da população jovem-adulta do país, entre 2000 e 2020, é poderosíssimo (embora temporário!) em seus desdobramentos. Desde a virada do século, chegam ao mercado de trabalho novas levas de jovens na faixa de 20 e 24 anos, constituindo a geração mais numerosa de nossa história. A oferta de trabalho é enorme e cresce bem mais rápido que o conjunto da população, cerca de 3% ante 1,3%, respectivamente.
Essa juventude, brisa refrescante e renovadora, ainda está dando voltas para arrumar emprego, mas as coisas têm melhorado um pouco ultimamente. Seria nela que o esforço de aceleração do crescimento deveria se concentrar. A meta olímpica, de hoje a 2016, representa um incentivo extra no imaginário de todos esses jovens, uma população de mais 80 milhões, que chegam para casar, ter casa, trabalhar e alcançar uma beirada de felicidade em sua caminhada pela vida.
O fator geográfico também é potente e, nesse caso, permanente. Significa a interiorização do desenvolvimento nacional, a conquista final do território. Em 1955, quando JK decidiu interiorizar a capital da República, cumprindo dispositivo constitucional, todos lembramos que o Centro-Oeste ainda era um “ermo demográfico”. O agronegócio, mais do que Brasília e sua burocracia, povoou esse ermo numa extraordinária saga de progresso com tecnificação, embora ao preço de bastante devastação dos biomas naturais.
Mas o trabalho valeu, apesar dos excessos, e os biomas estão longe de terem sido perdidos. O Brasil ocupou seu território de norte a sul e fará uma Copa do Mundo em 2014 em cidades espalhadas de norte a sul. Também nesse sentido amadurecemos, chegamos a um estágio sem volta.
O terceiro fator, macroeconômico, chegou meio por cansaço, depois que todas as tolices de política econômica haviam sido tentadas nos anos 80 e 90, duas décadas perdidas graças ao besteirol. Mas nem tanto. As topadas da megainflação e dos sucessivos e bestiais congelamentos de preços e salários, e de câmbio, resultaram numa certa “vacina” política contra a inflação e as invencionices dos sabichões econômicos.
Estamos preparados para um salto olímpico na economia entre 2010 e 2020, o que coincide lindamente com o calendário de 2022, bicentenário da Independência do país. O espírito olímpico ajuda a nos lembrar que o sucesso não é de graça, exigindo planejamento -que ainda não temos para o crescimento acelerado- e mobilização da nação em torno da meta -que temos menos ainda, pois, no discurso oficial, é sempre apenas o líder de plantão quem realiza todas maravilhas do progresso, e não o povo. Isso precisa mudar, e rápido, se de fato almejamos não desperdiçar o calendário de transformação que nos puseram pela frente.
(Folha de SP – 07/10/2009)
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