Foi anunciado, nesta semana, o nome do novo reitor da USP. Trata-se de informação relevante, já que, em boa parte dos rankings de ensino superior, a Universidade de São Paulo aparece como a melhor do Brasil. O novo reitor terá grandes desafios, entre eles o de manter as finanças da instituição saudáveis, ter um corpo de estudantes mais diverso e, ao mesmo tempo, preservar a qualidade de ensino e pesquisa.
Desafios ainda maiores terá, nos próximos anos, o ensino superior brasileiro. Apesar da contínua ampliação do acesso à universidade desde meados dos anos 1990, a despeito de uma recente desaceleração no crescimento de matrículas, permanece pequena a parcela de alunos que se matricula nos cursos e é menor ainda a que conclui, especialmente se compararmos com os índices da OCDE.
Mais desafiador, porém, é pensarmos no futuro da universidade, num contexto em que postos de trabalho e até setores inteiros de atividade humana tendem a desaparecer, com o processo de automação e robotização. Como promover excelência acadêmica e relevância dos currículos neste contexto?
O problema é que precisamos formar jovens capazes de atuar num cenário muito incerto, em que as características do mundo do trabalho estarão em permanente mudança. Assim, aprender meia dúzia de técnicas terá pouca utilidade se o futuro profissional não tiver capacidade de solucionar problemas, navegar entre disciplinas hoje artificialmente separadas e trabalhar em equipes que constantemente se modificam, combinando diferentes talentos e conhecimentos, de acordo com cada novo projeto que se necessita criar.
Ora, isso significa, de acordo com Sha Xin Wei, pesquisador da Universidade do Arizona, que formações estreitas não mais garantem o futuro, nem preparam os jovens para mudar quando seu emprego desaparece de repente. Envolve também um reposicionamento contínuo dos departamentos universitários, de acordo com os projetos e desafios que se quer enfrentar a cada momento.
Com tanta rigidez nas estruturas das universidades, hoje ainda muito centradas em saberes acumulados por uma geração de acadêmicos que ainda percebe, muitas vezes, as profissões de forma fragmentada e cartorial, a mudança não será tranquila. Afinal, posições e disputas de poder existem também na academia, que costuma, aliás, ser resistente a mudanças.
Mas a universidade prossegue se reinventando, especialmente em países mais avançados. Alternativas de qualidade à chamada Ivy League surgem ampliando o acesso a um número crescente de jovens que concluem o ensino médio. Projetos inovadores dentro das universidades de ponta vêm mostrando novo caminhos que certamente o Brasil poderá trilhar. O futuro já começou…
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 17/11/2017
No Comment! Be the first one.