A corrupção sistêmica é hoje fato estabelecido. A classe política está sob suspeita. As principais lideranças petistas e peemedebistas estão às voltas com a Justiça. O presidente interino, Michel Temer, não consegue sequer montar um ministério acima de qualquer suspeita. As investigações da Lava-Jato prosseguem com enorme apoio da opinião pública esclarecida. Aonde vai levar tudo isso? A um aperfeiçoamento institucional de uma democracia emergente. Quando vão perder o ímpeto essas investigações e a guilhotina midiática? Quando uma reforma política acenar com um futuro diferente, e as condenações das principais lideranças do Antigo Regime saciarem a opinião pública. Apenas o fim da impunidade e a mudança desse degenerado regime político decretariam o fim da Lava-Jato.
A verdade é que se revelou à luz do dia uma fabulosa engrenagem para a coordenação de tráfico de influência e desvio de recursos públicos. Maus empresários, funcionários públicos corruptos e políticos inescrupulosos aperfeiçoaram essa engrenagem de administração centralizada para o financiamento das campanhas políticas, a compra de sustentação parlamentar e a apropriação indébita de recursos públicos. Grupos de interesses privados financiam políticos corruptos, que por sua vez nomeiam funcionários públicos corruptos para postos-chave dessa engrenagem, que devolvem então aos corruptores privados recursos públicos suficientes para compensar seus “investimentos” na captura de influência política.
O programa econômico que preparei em 1989, para uma campanha presidencial nas primeiras eleições diretas após a redemocratização, previa programa de privatização para resgate integral da dívida interna. A participação do governo nas empresas estatais teria sido suficiente para zerar a dívida pública federal interna. Quantos Prounis e Bolsas-Famílias poderíamos estar hoje financiando com os R$ 500 bilhões pagos anualmente como juros da dívida? Pior, o descontrole de gastos públicos, de um lado, e a meta de inflação, de outro, produziram juros astronômicos que nos levaram ao endividamento interno em bola de neve. O governo federal gasta muito, rouba muito e gasta mal, enquanto faltam recursos para saúde, segurança, saneamento e educação em estados e municípios falidos.
Fonte: O Globo, 20/06/2016.
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