Gigantes da beleza de todo o mundo, como a francesa L’Oréal e a brasileira Natura, estão em plena corrida para se tornarem beauty techs — empresas de base tecnológica voltadas para esse setor. O processo tem a ver com o protagonismo que a tecnologia e a inovação ganharam em vendas, relação com o consumidor e lançamento de produtos e serviços.
Não à toa, start-ups têm sido absorvidas por grandes grupos para acelerar avanços em oferta cada vez mais assertiva e personalizada.
Nessa onda, surgem espelhos inteligentes e aplicativos que mapeiam rostos para avaliar tipos de pele, presença de acne, estágio de envelhecimento. Ou dispositivos como uma mini-impressora a jato de tinta capaz de produzir uma espécie de maquiagem personalizada para corrigir imperfeições da face, inovação da P&G que chega ao mercado americano em 2020.
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— A tecnologia é uma mudança forte, permeia todas as fases do negócio. Perseguimos a meta de nos tornarmos a maior beauty tech do mundo — diz Júlia Sève, à frente da diretoria de Cosmética Ativa da L’Oréal no Brasil, responsável, por exemplo, por quatro marcas de dermocosméticos, aqueles que têm ativos farmacológicos na composição. — Ouvimos a consumidora em todas as etapas da produção, e cada vez mais com ajuda da tecnologia. Isso permite inovar, melhorar o que já oferecemos e encontrar novas estratégias de atuação.
O Brasil é o quarto maior mercado de higiene e beleza do mundo, segundo dados da Euromonitor International. Na crise, o segmento encolheu em 2015 e 2016, retraindo 8,4% e 5,1%, respectivamente, de acordo com a Abihpec, que reúne empresas do setor.
Depois, avançou 4% em 2017 e 1,7% em 2018. De janeiro a julho deste ano, cresceu mais 1,5% sobre igual período do último ano.
Brasil é ‘laboratório’
O segmento específico de dermocosméticos, contudo, demonstra mais fôlego. Subiu 5,6% em 2017 e 7,9% no ano passado. Neste ano, de janeiro a outubro, a alta nas vendas bateu 12,7%, diz Júlia, da L’Oréal, citando dados de mercado da consultoria IQVIA.
As características das brasileiras — seis em cada dez têm pele oleosa — e o clima úmido fazem do Brasil um grande laboratório na área de cosméticos, diz a executiva da L’Oréal. Aqui são criados produtos da multinacional que são levados para outros mercados latino-americanos, além de África do Sul e Oriente Médio.
A tecnologia ainda ajuda a avaliar os itens junto à consumidora em testes conduzidos no Centro de Pesquisa e Inovação da L’Oréal, na Ilha do Fundão, na Zona Norte do Rio. A unidade é também, desde setembro, endereço da primeira subsidiária da EpiSkin nas Américas, que produz pele humana reconstruída como alternativa a testes realizados em animais.
No ano passado, a L’Oréal comprou o Modiface, de tecnologia em realidade aumentada para o segmento de beleza. E criou aplicativos que avaliam características específicas da face, dando orientações sobre cuidados e produtos. Dois deles chegam ao Brasil em 2020.
Um é o My Skin Track UV, desenvolvido em parceria com a Apple, que utiliza um gadget para monitorar a incidência dos raios sobre a pele. O outro é o Spotscan, que avalia a incidência de acne.
Roberto Vautier, especialista em varejo da AGR Consultoria, vê as pessoas mais preocupadas com saúde e o aumento da longevidade como novas oportunidades para o setor:
— A tecnologia traz diversos movimentos. Aplicativos que avaliam a pele são um deles. Outro é a incorporação de start-ups pelas grandes, dada a necessidade de inovar. Há ainda clubes de assinatura de produtos e plataformas digitais que geram conteúdo, coletam informações e fidelizam.
Na Natura, líder no segmento de higiene e beleza no país, a tecnologia impulsiona ainda outra frente: a rede de revendedores, majoritariamente feminina.
— Estamos focados em dar novas ferramentas para a revendedora oferecer um serviço de consultoria melhor à clientela e vender mais — diz Luciano Abrantes, diretor de Inovação Digital da empresa. — Temos mais de 600 mil consultoras com perfis próprios para vender pelo site. A plataforma digital também oferece conteúdo à consumidora. E nosso aplicativo já tem a função Espelho, que permite testar maquiagem virtualmente.
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Óleo da amazônia
O executivo conta que, no mês passado, a Natura obteve a primeira patente verde concedida a uma empresa de cosméticos do país. Cobre uma tecnologia desenvolvida por pesquisadores da companhia que usa resíduos de ativos obtidos do óleo de oleaginosas da Amazônia como insumos de produtos.
A linha antissinais e de cuidado da pele Chronos também ganhou novos itens específicos para pele oleosa.
Em paralelo, a Natura investe em aplicativos, com alguns chegando ao mercado em 2020. A empresa testa, por exemplo, o protótipo de um equipamento que funciona como lente de aumento acoplada ao celular.
Permitirá às consultoras analisar o tipo de fio do cabelo da clientela para recomendar produtos. Desde 2016, a multinacional brasileira mantém um programa para atrair start-ups, diz Abrantes:
— As start-ups são aceleradoras de inovação. Acabamos de abrir uma chamada global para buscar soluções para zerar resíduos de embalagens.
Fonte: “O Globo”