A quinta turma do Programa de Residência do Google for Startups ainda não sabe se poderá se encontrar no icônico prédio voltado ao empreendedorismo criado pela empresa de tecnologia em São Paulo. Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, o Google Campus está com as portas temporariamente fechadas e a residência será, pela primeira vez, completamente digital.
A boa notícia é que todos os selecionados estão muito acostumados com o ambiente virtual, como toda startup. Mais ainda, metade das empresas escolhidas usa a tecnologia inclusive para combater os efeitos da doença Covid-19. As dez startups selecionadas são ChatClass, Convenia, Creators, Cuidas, Gove, Hrestart, Linkana, Linker, Vittude e Yubb.
48 startups já participaram do Programa de Residência do Google for Startups. Esta quinta turma começou sua residência em 28 de abril. A iniciativa dura seis meses e oferece suporte e acesso a recursos de especialistas do Google e de empresas parceiras.
Segundo André Barrence, diretor do Google for Startups, três grandes pilares sustentam o conteúdo desta turma de residência: liderança, canais de aquisição e captação de recursos financeiros.
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“Os empreendedores não podem deixar de cortar custos, mas também têm de ver que seus funcionários passam por medos como perder familiares e ficar sem emprego. Ter empatia com essas situações nunca foi tão fundamental”, afirmou Barrence em entrevista para Pequenas Empresas & Grandes Negócios.
Veja os principais trechos da entrevista com André Barrence, diretor do Google for Startups:
PEGN — Como startups brasileiras podem ajudar a combater a pandemia de Covid-19? Qual é o papel dos negócios inovadores frente a um caos na área da saúde?
André Barrence — As startups ajudam a combater efeitos primários, secundários e terciários desta pandemia.
Primeiro temos a contenção de problemas imediatos, como o avanço do contágio. Há negócios que atuam diretamente no acompanhamento das pessoas, por meio de tecnologias como geolocalização. Outros empreendimentos atuam em diagnósticos e testes.
Já efeitos secundários acontecem tanto na própria área de saúde quanto em setores como educação, logística e serviços financeiros para pessoas físicas e jurídicas. As startups podem ajudar em todas essas áreas. Nesta turma, temos exemplos como a Vittude em saúde e a ChatClass em educação.
Chamo de efeitos terciários aqueles que apontam transformações na sociedade no longo prazo. Um exemplo é a capacidade financeira dos municípios, que hoje estão realocando seus recursos para combater a pandemia. Aí entram startups como a Gove, que ajuda o setor público a tomar melhores decisões, inclusive fiscais.
PEGN — Levando a pandemia em consideração, o critério de seleção mudou para esta turma?
André Barrence — A gente continua olhando as métricas de crescimento das startups para selecionar e para avaliar a efetividade do Programa de Residência. Analisamos, por exemplo, a quantidade de empregos gerados, a receita conquistada e investimentos captados. Procuramos também obstáculos de negócio, de tecnologia e de aquisição de usuários que produtos do Google podem ajudar a superar.
Fazemos uma avaliação anual de como as startups estão evoluindo da residência em diante. O ecossistema de startups, dentro e fora dos nosso programas, desenvolveu-se muito ao longo dos anos. Mas também passamos por uma crise agora, a do Covid-19.
Não tivemos um foco ou colocamos como critério startups que combatessem seus efeitos. Sempre buscamos startups com desafios e oportunidades na situação atual, porém. Essa nova turma poderá enfrentar os efeitos atuais da pandemia ou construirá produtos em mercados com oportunidades de crescimento nos próximos meses.
PEGN — Como o processo de residência se adaptou às novas demandas provocadas pela pandemia, além da mudança para um conteúdo completamente digital?
André Barrence — O espaço do Google Campus é muito importante, mas não é o principal do Programa de Residência. Estamos adaptando todo nosso conteúdo para ser remoto e definindo pilares essenciais para as startups passarem por tempos de crise.
O primeiro pilar é fortalecer as lideranças dessas startups. Há uma necessidade de o empreendedor entender os fatores humanos que afetam o trabalho do seu time nesse momento. Os empreendedores não podem deixar de cortar custos, mas também têm de ver que seus funcionários passam por medos como perder familiares e ficar sem emprego. Ter empatia com essas situações nunca foi tão fundamental.
O dono do negócio também precisa construir resiliência própria, tendo um autocuidado. Você será muito cobrado como líder e precisa estar fortalecido. É como se diz nos aviões: coloque a máscara de oxigênio antes em você mesmo para depois ajudar quem está ao seu lado. Estamos colocando coaches de liderança e especialistas do Google nesta edição para ajudar os empreendedores a entender o cuidado com eles mesmos e com sua equipe.
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O segundo pilar é melhoria de performance. Analisamos a efetividade de cada canal de aquisição, focando em crescimento equilibrado e financeiramente sustentável. Sabemos que muitas startups já passam ou passarão por despesas inesperadas, então olhamos o caixa com atenção. Isso inclui ajudar os empreendedores a reduzir custos como o de computação em nuvem.
Em terceiro lugar, analisamos a estratégia do negócio para captar recursos financeiros. Os investidores ainda têm capital, mas serão ainda mais criteriosos. As startups que querem captar nos próximos meses precisam estar sólidas, com métricas e produtos robustos. Esse é um dos objetivos do programa.
PEGN — Como futuros empreendedores podem enfrentar a pandemia? Quem quer fundar a própria startup dever fazer o quê?
André Barrence — Os empreendedores devem praticar uma mistura de ambição e cautela. Eles precisam estar motivados a resolver problemas que se tornam visíveis por conta da pandemia. Mas também devem analisar o melhor momento e criar o melhor produto ou serviço possível para as necessidades atuais do mercado.
O problema é que temos uma incerteza grande, com novas situações a cada semana. Analise os dados sobre atuais e futuros momentos do seu setor e os questione. É o momento de observar para depois decidir.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios