Turbulências econômicas, explosão da violência, desgaste com escândalos de corrupção e crise migratória criaram um novo cenário nas eleições estaduais: a dificuldade de governadores nas próprias campanhas à reeleição. Há 20 estados onde o atual ocupante do cargo tenta um novo mandato, mas apenas oito deles estão isolados em primeiro lugar, em situação confortável para prolongar o poder por mais quatro anos, segundo as pesquisas de intenção de voto mais recentes. Caso a situação se mantenha, esta será a menor taxa de reeleição desde que a possibilidade passou a valer nas disputas para os governos estaduais. Entre 1998 e 2014, 69% dos governadores que tentaram um novo mandato conseguiram o feito. O desempenho mais baixo aconteceu em 2002, quando 58% se reelegeram. Hoje, a projeção indica a vitória de 40%.
Nos 12 estados em que os governadores enfrentam dificuldades na campanha, há quatro em que eles estão em empate técnico com adversários no primeiro lugar: José Ivo Sartori (MDB), no Rio Grande do Sul; Paulo Câmara (PSB), em Pernambuco; Waldez Góes (PDT), no Amapá; e Belivaldo (PSD), em Sergipe. Nas simulações de segundo turno, Sartori e Câmara aparecem em empate técnico com os adversários — Eduardo Leite (PSDB) e Armando Monteiro (PTB), respectivamente. Já Góes perderia para os dois possíveis adversários, enquanto Belivaldo ganharia de um e perderia de outro.
Leia também:
Helio Gurovitz: Todos já de olho no segundo turno
Merval Pereira: Duelo previsível
Maílson da Nóbrega: Governar é tão ou mais difícil de se eleger
Nos outros nove estados, a situação é ainda mais complicada. Alguns exemplos são as situações de Márcio França (PSB), que hoje estaria fora do segundo turno em São Paulo, e Cida Borghetti (PP), no Paraná, que perderia no primeiro turno para Ratinho Júnior (PSD), segundo o Ibope.
Já em Minas Gerais, o cenário atual indica que o governador Fernando Pimentel (PT) e o senador Antonio Anastasia (PSDB) vão disputar o segundo turno. O petista está atrás do adversário (33% a 23%, segundo o Datafolha) e perderia no segundo turno. A campanha mineira está centrada na situação fiscal do estado — o governo precisou parcelar o salário dos servidores e, ainda assim, atrasou pagamentos. Anastasia tem explorado o assunto, enquanto Pimentel se defende afirmando que o caos foi provocado pelo governo do tucano, que o antecedeu.
— O estado está quebrado, e essa discussão está sendo jogada para o eleitor. É uma guerra de versões, mas como a memória mais recente é sempre mais importante, a lembrança dos salários atrasados acaba pesando mais — avalia o cientista político Carlos Ranulfo, professor da UFMG.
CRISE MIGRATÓRIA
Em Roraima, a governadora Suely Campos (PP) aparece em terceiro lugar, atrás de Anchieta (PSDB) e Antonio Denarium (PSL). A crise migratória da Venezuela é o principal tema da campanha, com a discussão sobre o fechamento das fronteiras. O cientista político Eloi Parreiras, professor da Universidade Federal de Roraima (UFRR), cita outros elementos que também atrapalham o desempenho da atual governadora:
— É um estado que depende muito das transferências de recursos federais e emendas parlamentares, e a governadora está isolada politicamente. E todos os candidatos estão usando a crise migratória na campanha, mas não existe uma diferença muito grande entre os discursos deles.
No Rio Grande do Norte, onde o governador Robinson Faria (PSD) está em terceiro lugar, a segurança é um dos temas mais discutidos. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, é o estado mais violento do Brasil, com uma taxa de 68 mortes violentas intencionais por cem mil habitantes — a taxa brasileira é de 30,8. No Mato Grosso, o governador Pedro Taques (PSDB) está em segundo lugar. O tucano é acusado por delatores de ter recebido caixa dois em campanhas eleitorais em um esquema de desvios em licitações e é investigado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) no escândalo da central clandestina de grampos no estado. Ele nega as acusações, mas o assunto tem sido explorado por adversários.
Fonte: “O Globo”