Na avaliação do coordenador de Economia Aplicada do Instituto Brasileira de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Armando Castelar, a economia brasileira precisa de medidas concretas para evitar que a relação dívida/PIB continue avançando. Com as condições atuais, afirma Castelar, é provável que o País desça mais um degrau na escala das agências de classificação de risco. “Quando se olha as questões que estão colocadas na mesa, a chance de um cenário pior é maior do que as condições que a agência coloca para tirar o outlook negativo”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.
Como o sr. analisa o rebaixamento do País?
A decisão era esperada porque o rating estava em revisão. As outras duas agências (Standard & Poor’s e Fitch) fizeram a revisão da nota do Brasil e já tinham uma perspectiva negativa. A confirmação de uma redução de dois níveis e a perspectiva negativa, num certo sentido, confirmam o pior cenário. Não significa que a decisão vai se refletir nos preços dos ativos porque, como o rebaixamento já era esperado, os preços refletiram essa piora antes. Um rating de uma agência é como um laudo médico, e o comunicado da Moody’s foi muito claro de que a economia do País está enferma.
Como o sr. vê os próximos capítulos da política econômica?
A Moody’s diz basicamente o seguinte: a dívida vai aumentar muito e não existe nada na mesa no sentido de evitar isso. O rebaixamento reflete a dinâmica esperada para essa dívida. Quando se olha as questões que estão colocadas na mesa, a chance de um cenário pior é maior do que as condições que a agência coloca para tirar o outlook negativo. O que a gente vê é que não existe uma proposta sobre questões que mudem de uma maneira significativa a trajetória da dívida pública no horizonte que a agência considera, entre 2016 e 2018. Então, muito provavelmente eu acho que o País vai ter mais um downgrade.
Quais seriam as consequências de um novo rebaixamento?
Obviamente, o custo de financiamento externo do Brasil vai piorar, e a imagem do País fica bastante complicada. As três agências estão com o outlook negativo no Brasil e com uma análise muito consistente sobre os motivos dessa piora rápida.
O sr. poderia detalhar quais medidas concretas podem ser adotadas para evitar um novo rebaixamento?
A mensagem é muito clara. A dinâmica da dívida é explosiva. Ela está subindo muito rápido. Quanto mais ela sobe, mais ela contribui para o déficit e, portanto, mais rapidamente a dívida vai subir. Então, para reverter, precisamos de medidas que efetivamente fizessem com que a dívida subisse menos do que o previsto no exercício da Moody’s, que é até conservador perto do que a gente vê no mercado. Precisamos de medidas significativas que acelerassem o crescimento econômico – é sempre bom lembrar que o PIB está no denominador dessa razão – ou fizessem uma contenção do gasto significativa.
A equipe econômica fala no retorno da CPMF e na reforma da Previdência.
A CPMF é muito pouco e traz implicações para o crescimento. A reforma da Previdência poderia ter um impacto positivo, mas ela teria de ser significativa e num horizonte não muito longo. Não adianta fazer uma reforma da Previdência que começa em 2017, porque até lá já explodiu. O que a gente vê é que o governo não tem nenhum projeto para a Previdência.
O sr. falou sobre a necessidade de acelerar o crescimento. Qual é a previsão para 2016?
No ano passado, revisamos o nosso número para uma queda do PIB de 3,7%, e este ano, para um recuo de 3,4%. Com relação a 2016, o risco é para baixo. Acredito que estamos num processo de deterioração de expectativa e confiança que se reforçou em várias divisões. Você começa a ver quebra de empresa, aumento do desemprego e a falta de resposta de política econômica. A queda de 3,4% pode acabar se mostrando uma previsão otimista.
Fonte: O Estado de S.Paulo, 24/02/2016.
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