Dois dias depois da humilhação do Brasil na Copa, o governo anuncia que quer assumir parte das funções de legislar sobre o futebol, exige mudanças na estrutura do esporte e rejeita a ideia de que a CBF pode, sem participação estatal, administrar o setor.
A Fifa proíbe que governos promovam qualquer intervenção nas federações nacionais, sob a ameaça de expulsar o país das Copas. Mas Brasília estima que existe espaço para agir.
“Eu sempre defendi que o Estado não fosse excluído por completo do futebol”, disse Aldo Rebelo, ministro dos Esportes. “É uma intervenção indireta”. Segundo ele, existe áreas de “interesse público” e uma mudança pode alcançar até mesmo a CBF.
“Isso se houver uma reforma na lei que de ao estado a atribuição de regular. A Lei Pelé tirou do estado qualquer tipo de poder de atribuição e poder de intervenção. Ela determinou a prática do esporte como algo privado, atribuição do mundo privado e isso só pode ser modificado se a legislação também for modificada”, declarou.
“Se depender de mim, não teríamos tirado o estado completamente dessa atribuição. Se depender de mim, parte dessa atribuição deve voltar”, defendeu Aldo Rebelo.
Ele garante que o governo não quer nomear cartolas. “Mas o Estado não pode ser excluído da competência de zelar pelo interesse público dentro do esporte”, insistiu. “Dirigentes passaram a administrar o futebol sem qualquer atuação do estado. Queremos retomar algum tipo de protagonismo no esporte. Não para indicar interventor. Mas para preservar o interesse nacional e o interesse publico”, disse.
“O futebol brasileiro precisa de fato de mudanças. A derrota para a Alemanha evidencia essa necessidade”, afirmou o ministro, que chamou a goleada de “lição”. “Precisamos adotar medidas para erradicar os motivos do vexame de nosso futebol”, insistiu.
“Foi um acidente o que ocorreu. Mas precisamos examinar o motivo e a causa do acidente. É uma marca profunda. A melhor reação é ver as causas mais duradouras daquele desastre. Precisamos extrair lições para que o Brasil reponha a seleção no status que ela deve ter. As mudanças são necessárias”, disse.
Aldo classificou os 7 x 1 como “uma marca muito terrível para o futebol brasileiro. O ministro pede uma melhoria na qualidade da gestão dos clubes, novas leis e até impedir a exportação de jovens craques. O ministro também pede uma organização no calendário e até mesmo na estrutura financeira dos times.
“Deveríamos fazer esforço para elevar a qualidade da gestão dos clubes”, disse. “Algumas dessas propostas estão sendo discutidas na legislação, que está tramitando no Congresso. Queremos que os clubes assumam responsabilidades em relação à gestão. Que tenhamos condições de apoiar financeiramente esses clubes. São poucos que tem condições de recorrer à lei de incentivo ao esporte”, declarou.
Aldo ainda quer tratar das finanças dos times. “Queremos que os clubes façam uma renegociação da dívida, mas com duplo compromisso, de pagar a divida passada e a futura. E sem atraso no pagamento de atletas”, defendeu.
Outro ponto é o de impedir a saída de jovens craques para o exterior. “Precisamos discutir a legislação do ponto de vista de trabalho de menores. Somos exportadores de matéria prima e somos importadores de produto acabado”, afirmou. “Precisamos mudar essa equação. A lei coloco super poder para os empresários”, atacou.
Treinador
O ministro, porém, se recusou a falar de troca de técnicos ou de uma opção estrangeira para a CBF. “Não vou promover caças às bruxas”, disse. “Para todo grande problema aparece uma solução óbvia, fácil e errada. Precisamos ter a consciência de que a mudanças no futebol precisam ser feitas. Mas precisamos encontrar uma forma eficiente de promove-las. E que isso não se faça apenas pela dor da derrota”, completou.
Aldo, porém, se esquivou como pode ao ser questionado se apoiaria uma CPI do futebol ou na CBF, como defende o deputado Romário. Ele ainda atacou o ex-jogador, alertando que Romário não fez uma só proposta real para o futebol brasileiro enquanto esteve na Câmara de Deputados.
O ministro sugeriu que Romário busque apoio entre os demais deputados para suas propostas e insiste que o governo mantém sua distância em relação ao Poder Legislativo.
Fonte: O Estado de S.Paulo.
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