Se uma startup recebeu uma nova injeção de capital, é cada vez mais provável que parte dos recursos tenha vindo de uma corporação. No mundo, um quarto de todos os investimentos em negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos já vem de grandes empresas.
O dado é da base de dados Pitchbook e faz parte do estudo Unlocking Corporate Venture Capital. Feito pela aceleradora e fundo de investimentos 500 Startups, o relatório fala sobre a tendência do corporate venture capital (CVC): o investimento de corporações em negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos.
A 500 Startups é uma das investidoras mais ativas do mundo todo na busca por startups de estágio inicial. Criada em 2010, a aceleradora e fundo de investimentos tem 2,5 mil startups em seu portfólio. São empreendimentos de 75 países, que receberam US$ 560 milhões em investimentos da 500 Startups. Também oferece o corporate venture capital “como um serviço”, fazendo a ponte entre companhias e empreendimentos em busca de capital de risco.
“Há uma tendência forte de corporações investirem em startups. As grandes empresas olham para fora com o objetivo de trazer inovações que não tenham o viés do próprio negócio, sob a ótica de um empreendedor ou empreendedora”, analisou a Pequenas Empresas & Grandes Negócios Bedy Yang, brasileira e sócia operacional da 500 Startups. “Mas é um mercado ainda incipiente, com muitos fundos de corporate venture capital sendo criados apenas nos últimos anos. Os retornos em startups só vêm em um prazo de cinco a dez anos.”
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Bedy apresentou os resultados do estudo nesta semana em São Paulo, no espaço de trabalho compartilhado Cubo Itaú. Para elaborar o Unlocking Corporate Venture Capital, a 500 Startups ouviu 100 investidores em CVCs em 35 países, incluindo o Brasil. As pesquisas foram realizadas entre maio e julho do último ano.
Além de desenhar o quadro do corporate venture capital no mundo, a aceleradora e fundo de investimentos dá cinco dicas para criar um CVC de sucesso. Confira a seguir:
O crescimento do corporate venture capital
Em 2018, US$ 66,8 bilhões de dólares foram investidos por grandes empresas em 1.443 acordos com startups apenas nos Estados Unidos. O valor é muito superior aos US$ 36,5 bilhões vistos nos 1.427 acordos de 2017. No Brasil, um exemplo de CVC com grande atuação é a Qualcomm Ventures, investidora de startups-unicórnios como 99, CargoX, Loggi e Quinto Andar.
Os aportes podem fazer parte do caixa da empresa no começo e aos poucos se transformarem em entidades separadas de CVC. A primeira opção ainda é praticada por metade dos fundos de corporate venture capital, segundo a 500 Startups.
A maioria (51,5% das respostas) das grandes empresas que aportam em startups fazem parte de setores com grandes chances atuais e futuras de serem transformados por negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos. São áreas com barreira de entrada baixa e níveis baixos de inovação no presente. Exemplos são administração de investimentos, transportes, turismo e varejo.
É no transporte, especialmente aquele feito por caminhões, que atua a gigante Volvo. Jason Miles, diretor operacional do Volvo Financial Services Innovation Ventures, falou sobre seu CVC durante a apresentação no Cubo Itaú.
“Olhamos para mobilidade e sua conexão com logística e serviços financeiros para criar novos bancos de dados, que são o novo petróleo. Sabemos onde os veículos estão, quanto custa operar uma frota e como otimizar toda a cadeia de valor, dos portos até a última milha”, disse Miles.
5 passos para um corporate venture capital de sucesso
Segundo Bedy, a maioria dos empreendedores ainda prefere captar com um fundo comum de capital de risco por conta de sua experiência em trabalhar com startups. Olhando para corporações, o principal benefício está na parceria que a corporação pode oferecer: por exemplo, poder estampar marcas como a Volvo em sua lista de clientes atendidos.
A 500 Startups elenca três categorias que precisam ser definidas antes da criação de um fundo de corporate venture capital. Escolha se o retorno que mais importa é estratégico (67% dos casos) ou financeiro (33%); se os gestores terão perfis mais corporativo (73%) ou empreendedor (27%); e se o fundo será autônomo (85%) ou integrado (15%) ao balanço e à estrutura da empresa.
A aceleradora e fundo do Vale do Silício também elencou cinco dicas para criar um bom veículo corporativo de investimentos em startups. Primeiro, estruture sua unidade de corporate venture capital de acordo com seu objetivo principal: estratégico ou financeiro.
O segundo passo é se lembrar de que o tempo importa: 40% dos fundos de corporate venture capital ouvidos pela 500 Startups têm um prazo menor do que cinco anos para o retorno de seus investimentos – um prazo apertado para o mundo das startups. No começo, olhe para chances rápidas de retorno e acelere seu aprendizado o máximo possível.
A terceira dica é dar capital estratégico e inteligente para os empreendimentos investidos. O dinheiro se tornou uma commodity para os melhores empreendedores: eles têm acesso aos melhores fundos. O fundo precisa ter uma estratégia de diferenciação para conseguir escolher os melhores criadores de startups.
Um desses diferenciais pode ser conhecimento e experiência em escalar operações, por exemplo. As principais demandas das startups investidas por CVCs são vendas e distribuição (20,5% das respostas); triagem de talentos (18,8%); e suporte para operação e expansão global (14,8%). As melhores formas de encontrar bons empreendimentos são relacionamentos com outros investidores (29% das respostas); relacionamentos com fundadores (26%); eventos (15%); aceleradoras (15%); e investimento em outros fundo de venture capital (8%).
O quarto mandamento é medir os resultados – não apenas em retorno sobre o investimento, mas também em inovações trazidas para a companhia. Por fim, a quinta dica é levar os ensinamentos de volta à corporação, mesmo quando a estrutura do corporate venture capital é separada da organização-mãe.
Fonte: “Pequenas Empresas, Grandes Negócios”