Integrante do coletivo “Mete a Colher” fala sobre o aplicativo e comenta o caso do BBB
Uma das integrantes do coletivo, Renata Albertim, conta em entrevista a história por trás da ideia do app, explica por que a faixa etária de 16 a 24 anos é a que mais sofre com violência doméstica e comenta o caso do “BBB”.
O Globo – Por que resolveram criar o aplicativo?
Renata Albertim – O “Mete a Colher” é uma rede de apoio que ajuda mulheres a saírem de relacionamentos abusivos e enfrentar a violência doméstica. O projeto foi criado em março de 2016, em Recife, por cinco jovens mulheres. Diante do cenário da violência contra a mulher, decidiram criar um movimento de empoderamento e de combate aos relacionamentos abusivos. O grupo emergiu em pesquisas e desenvolveu uma rede colaborativa de mulheres, onde as vítimas de relacionamentos abusivos têm acesso a atendimentos jurídico e psicológico, além de oportunidade de conversar com outras pessoas que passam por situação semelhante. A iniciativa foi premiada no Startup Weekend Women.
O Globo – Como o app vai funcionar?
Albertim – Ele é todo baseado em conversas, com uma lógica parecida com Whatsapp e o Facebook Messenger. Apenas mulheres vão fazer parte da rede. Para acessar o aplicativo será necessário o cadastro através do perfil do Facebook das usuárias. Para manter a segurança de todas, além do login via Facebook, haverá também a opção de ter um código PIN para acesso ao app e mensagens criptografadas que se apagam depois de um tempo, deixando quase impossível o acesso de terceiros às conversas.
Assim que acessar o aplicativo, a usuária pode oferecer ou pedir ajuda. Caso a mulher precise de ajuda, será necessário apenas digitar seu relato ou enviar um áudio. Na central de controle, vamos adicionar tags, especificando o que ela precisa, e o pedido será direcionado para quem pode ajudar.
A usuária que entrar no app para ajudar poderá marcar as categorias em que quer oferecer ajuda: apoio psicológico, ajuda jurídica ou inserção no mercado de trabalho. Nessa última categoria, algumas empresas vão poder se cadastrar também. Todas as ajudas terão a conversa como forma de interação.
A previsão é que entre no ar em julho deste ano, nos formatos IOS e Android. Será gratuito.
O Globo – Após os episódios de agressão no “Big Brother Brasil” e a expulsão do participante Marcos, muitas pessoas manifestaram seu apoio a ele nas redes sociais e na porta da delegacia onde foi depor. Como vocês interpretam isso?
Albertim – Fica fácil perceber como as punições em caso de relacionamento abusivo estão longe do ideal. Essa é a prova viva de que nada acontece a um homem que agride uma mulher. Ele tem apoio da sociedade, ganha fãs e a vítima continua sendo vista como culpada e recebendo, por consequência, a punição social. Não apenas nesse caso de Marcos, mas também no caso do Goleiro Bruno.
O Globo – Pesquisas mostram que as mulheres de 16 a 24 anos são as que mais sofrem com violência do parceiro. Por que essa faixa etária é a mais atingida?
Albertim – Geralmente as mulheres dessa idade não sabem o que é relacionamento abusivo, não tiveram muitas experiências prévias para identificar um relacionamento desse tipo. Além disso, nós, mulheres, temos uma educação a aceitar muita coisa para “não perder o parceiro”.
O Globo – Que dicas vocês dão para as pessoas reconhecerem um relacionamento abusivo e poderem evitar que ele avance?
Albertim – Sempre que uma mulher se pergunta se ela merece estar passando por aquela situação, geralmente a resposta é: ela não merece. É muito importante escutar aquela voz que está dentro dela dizendo: “Você não precisa passar por isso, você não merece isso”. Outra coisa muito boa é ler sobre o assunto, na internet tem um bocado de informações básicas e diretas sobre relacionamento abusivo que ajudam nessa identificação. Por último, escutar aquela amiga que vem alertar a gente sobre a relação que estamos passando. Quem está de fora geralmente tem uma visão melhor sobre determinadas situações.
O Globo – O relacionamento abusivo, que leva à violência doméstica, é muito recorrente ainda hoje. Vocês acham que interromper isso exige essencialmente uma mudança na forma como educamos nossos filhos meninos? E o que mais deve ser feito?
Albertim – Educação de homens e mulheres em geral. Homens para não achar que têm domínio sobre a mulher. Mulheres para se empoderarem, saberem que não têm que ser dominadas por ninguém. Para a questão da violência contra a mulher, mudar as relações homem-mulher.
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