O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que, se o Congresso Nacional desidratar a reforma da Previdência , o governo não enviará ao Legislativo o projeto que cria o sistema de capitalização para os mais jovens. Com isso, os parlamentares comprometerão as aposentadorias de seus filhos e netos. Ele afirmou que o objetivo do governo é conseguir uma economia de R$ 1 trilhão. E frisou que ela é necessária para o equilíbrio do sistema.
— Se vierem só R$ 500 bilhões, não tem problema nenhum. Não lança capitalização. Vai condenar filhos e netos. Continuamos no sistema antigo — falou o ministro durante a cerimônia de transmissão de cargo de presidente do Banco Central para Roberto Campos Neto.
Guedes ressaltou que a classe política que será responsável pela decisão, que pode afetar diretamente os investimentos no país. Segundo o ministro, se os parlamentares decidirem mudar algum aspecto da reforma, precisam compensar em outra área de modo que a economia esperada seja obtida:
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— Quer dar um pouquinho mais para as moças? Tira dos militares. Quer dar mais para os militares? Tira do rural.
Paulo Guedes afirmou que tem visto durante as negociações um apoio massivo à reforma da Previdência ao contrário das notícias de que o governo teria apenas 50 votos para aprová-la na Câmara. Brincou, entretanto, com o fato de ser um novato no mundo político e com a possibilidade de fazer uma leitura equivocada do cenário.
— Estou muito convencido do que vamos conseguir — disse ele.
Numa defesa enfática sobre a necessidade de mudar a distribuição de recursos públicos, ele disse que o governo pode discutir a proposta de revisão do Pacto Federativo (que prevê uma ampla desvinculação do Orçamento) ao mesmo tempo que a reforma no sistema de aposentadorias.
— Se isso é uma ferramenta para aprovar a previdência, vamos caminhar com os dois.
Música de Bruce Springsteen como lema
Segundo Guedes , a classe política deve ter em mente que, sem a reforma, a perda será de todos. Ele disse que 8 milhões de pessoas — os funcionários públicos — não perderão nada, mas 200 milhões perderão tudo.
— Remover privilégios: o que é mais democrático que isso? Quem é contra isso? Brasília vai responder. O Congresso vai responder — disse o ministro, antes de mandar um outro recado aos parlamentares: — Sabemos que a velha política morreu. Não sabemos qual é a nova. Não é o presidente (Bolsonaro) que vai fazer. Quem tem de assumir o protagonismo é a classe política.
Sobre o fato de ter tantas metas, Paulo Guedes afirmou ser preferível colocar grandes objetivos do que alguns simples e mais fáceis de cumprir. Falou em “duplicar o combate”. E disse que um trecho de uma música de Bruce Springsteen (“No surrender”) é o lema de sua equipe, repetido durante as reuniões:
— No retreat. No surrender. We made a promise. We swore we’d always remember — disse, em inglês o trecho da canção que, traduzido, significa: “Não recuar. Não se render. Nós fizemos uma promessa. Nós juramos que vamos nos lembrar sempre.”
R$ 1,250 trilhão em estatais
De acordo com Guedes, o Ministério da Economia terminou o levantamento de quanto valem as estatais da União: R$ 1,250 trilhão. O valor é bem maior que a estimativa que ele tinha na transição do governo, de R$ 1 trilhão. Além dessa fonte de recursos — que pode ser usada para melhorar as contas do governo —, ele lembrou que a União ainda tem R$ 1 trilhão em imóveis.
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O plano do ministro é vender ativos como esses para tentar zerar o rombo das contas públicas. A meta deste ano da equipe econômica é manter o déficit em até R$ 139 bilhões neste ano.
Fonte: “O Globo”