Especialista do Instituto Millenium que visitou escolas pelo país viajando no avião do “Jornal Nacional” diz que não é o aumento do percentual do PIB para o setor que vai melhorar o aprendizado.
Gustavo Ioschpe, de 33 anos, diz que não é masoquista, mas escolheu a “batalha pela educação brasileira” por crer que uma reforma com melhora da qualidade só ocorrerá com conscientização e cobrança da sociedade. Para ele, não é preciso haver pirotecnias ou aumentos maciços de investimento. Pesquisador e autor de “A ignorância custa um mundo”, ele foi convidado a viajar no avião do “Jornal Nacional” mês passado, como consultor da série “Blitz na Educação”. Diante de mazelas de escolas e do descaso com crianças pobres, diz ter sentido frustração e depressão. Mas, em algumas, viu que o comprometimento de professores, pais e diretores é suficiente para transformar a escola pública.
O Globo – Como foi visitar as escolas brasileiras?
Gustavo Ioschpe: Foi bom porque defendo que não precisamos de pirotecnia, de grandes mudanças nem revolução para ter educação de qualidade. Para ter escola que ensina, na qual o aluno não repete, sai alfabetizado até o 2º ano, podemos trabalhar com a infraestrutura e os recursos que temos hoje. Vimos pelo menos duas escolas, em Novo Hamburgo (RS) e Goiânia (GO), em que eu colocaria meu filho.
O Globo – Cobra-se investimento maciço, até duplicação do percentual do PIB gasto na educação.
Ioschpe: Não só acho que isso é absolutamente irrelevante, como há evidências sólidas disso. Quando você cruza o percentual do PIB do que alguns países investem na educação com testes que medem desempenho do aluno, descobre que não há relação entre gasto e aprendizado. É frustrante, quase revoltante. O investimento em educação tem aumentado no Brasil, mas a qualidade, não. É ruim não apenas por ser desperdício de dinheiro, mas desperdício de tempo, variável mais preciosa. Estamos em um contexto cada vez mais globalizado e competitivo, e a defasagem do Brasil, com relação aos EUA, é de 60 anos.
O Globo – O Brasil gasta mal?
Ioschpe: Muitíssimo mal.
O Globo – Qual o maior desperdício?
Ioschpe: Primeiro, o desvio de verbas. Isso precisa ser investigado. Mas o mais significativo é que hoje se gastam de 70% a 80% da verba de educação com salários. E gasta essa quantidade com pessoas mal formadas, sem preparo para dar aula. Você pode pagar o dobro, triplo e quádruplo, que vão continuar mal preparadas. Há uma ideia no Brasil de que ser professor é um sacerdócio. Não é. É cargo profissional, e o ocupante precisa ter competência e preparo. O problema não é dinheiro, nem se o gasto é eficiente ou não. O problema é a formação dos professores e as práticas de sala de aula, onde ainda há uma visão ideológica, com viés protossocialista, de formar um cidadão crítico e consciente, em vez de transmitir conhecimento e conteúdo. Há outra questão: quase metade dos diretores do ensino básico são indicações políticas. Essa metade você pode descartar porque a preocupação deles não é aprendizado e qualidade. É “estar bem” e ter relações cordiais e pacíficas com professores e a comunidade.
O Globo – Você disse que é preciso acabar com a ideia de “sacerdócio” do professor, mas, em Goiânia, disse que a diretora era “heroína”. É preciso ser heróico?
Ioschpe: Depois que falei isso, me arrependi. Justamente porque reforça o estereótipo na coisa sobrenatural. Estava num estado de “depressão educacional”, depois de ver tanta escola ruim e aluno abandonado. Era o terceiro dia e tínhamos passado antes na escola ruim, que era algo de doer na alma. Tinha acabado de ver que, para o aluno pobre e analfabeto, a aula de reforço era taekwondo. Chamar de heroína foi um equívoco. O que ela estava fazendo é ser profissional. Ela era muito boa diretora, muito comprometida.
O Globo – O que mais chateou?
Ioschpe: Foi na escola do Pará, que teve paralisação. Um aluno comentou: mais vai “grevar” de novo? Ou seja, eles até inventaram um verbo. Mas o mais grave é que os alunos nem foram avisados. É um descaso tão grande! Na escola de Goiânia, estava conversando com uma professora no fim do recreio e passou um menino, que tinha cortado o pé, estava sangrado. Ela mandou ir para a aula, e ele cuspiu no pé, para “limpar” a ferida e foi assim para a classe.
O Globo – Você falou sobre a “cultura de aceitação do fracasso”. Pode explicar?
Ioschpe: É essa ideia de que é esperado e obrigatório que aquele aluno vai fracassar na educação, não vai dominar todo o conteúdo, não vai ser aprovado em todas as séries e vai eventualmente abandonar a escola. São escolas que não acreditam que seus alunos possam ser doutores, engenheiros. Isso acaba permeando a cultura da escola, gera menos cobrança e uma certa arrogância no trato com as famílias. Gera uma cultura de aceitação do fracasso, considera isso o normal. Isso acaba afetando até o professor motivado.
O Globo – A variação de salários tinha efeito na motivação?
Ioschpe: O que a pesquisa empírica sugere é que não há relação entre o salário do professor e o aprendizado do aluno. Vimos isso muito claramente no “JN no Ar”. Tirando uma escola militar em Belém, onde os alunos pagavam mensalidade, vimos escolas da mesma cidade, da mesma rede, onde professores ganham o mesmo salário. E há diferenças abissais em aprendizado. Os professores não gostam quando falo que não há relação entre salário e aprendizado, mas falo. E com pesar, porque seria uma solução mais simples. Mas o professor está despreparado, está cheio de abobrinhas ideológicas sobre o que é seu papel, está inserido em um sistema que não está se preocupando com o aprendizado. Pagar melhor é vantagem para o professor, mas, para o aluno, não.
Fonte: O Globo, 05/06/2011
A reportagem e a entrevista estão absolutamente dentro do “padrão Globo”. Informa-se apenas os fatos superficiais gritantes, não há aprofundamento da matéria ou fornecimento de dados que corroborem ou sustentem a opinião emitida.
Recomendo a leitura de “Professores em extinção” em: http://sites.google.com/site/filosofiapopular/home/menu-educacao/professores-em-extincao para que Gustavo Ioschpe se inteire melhor do assunto sobre o qual decidiu falar.
E as propostas? Não há nenhuma proposta…
Com todo o respeito, achar eu também acho muita coisa!!
Lamentavelmente muitos perdem seu tempo sendo manipulados por forças ocultas usando um canal de televisão. Essa entrevista desse menino beira o ridículo. Totalmente dispensável. Eu me lembro bem daquela moça desafiando a moral e bons costumes de uma escola tradicional no Rio ou em São Paulo, nem me lembro, e no mesmo dia o jornal hoje, com sua apresentadora sorridente e rostinho angelical, bota um outro “especialista” para defender a arrogante criatura e descer o pau na escola.
Leio Gustavo Ioschpe há algum tempo, tenho por ele uma profunda admiração. É o que o Brasil melhor produziu em matéria de intelectualidade nos últimos tempos. Espero vê-lo como Ministro da Educação…Sonho com o dia em que os ricos, que cursam Universidade Federal e Estadual, pagarão suas devidas mensalidades. Sonho com a Universalização do Ensino Médio, com o fim da reprovação de alunos nas primeiras séries do ensino fundamental, com a completa alfabetização aos 8 anos de idade!!! Longa vida!!
Concordo com Gustavo quando ele afirma que professores descomprometidos, por melhores salários que recebem continuarão tocando a mesma nota. Quando se tem compromosso, mesmo ganhando o que ganha se esforçam para desempenhar bem a sua função. A verdadade é que a maioria dos professores brasileiros são despreparados, não gostam de ler e se atualizar.
Este papo de salario de professor é uma lenda. Não digo que o salario pode ser baixo em alguns lugares, mas de forma nenhuma há relação entre salario com qualidade de ensino. Convivi e convivo com professores, que ganham o mesmo salario e que diferentes niveis de comprometimento com o oficio. O mesmo falo de médico, advogados, etc.