Tenham a santa paciência! O pedido feito pela Organização dos Estados Americanos (OEA) para que o Brasil interrompa a construção da usina em nome da integridade dos povos indígenas é, para dizer o mínimo, de uma leviandade maior e mais profunda do que o lago que Belo Monte formará no rio Xingu.
Ouvir esse tipo de recomendação nos leva a perguntar: a quem a organização, até aqui tida como séria, anda ouvindo para formular suas decisões? E desperta uma curiosidade preocupante: por que a OEA ignora, em suas preocupações humanitárias, os habitantes de Manaus?
A energia na capital do Amazonas é cara, escassa e, pior do que isso, produzida por termelétricas movidas a óleo combustível. Essa é, como se sabe, uma das mais poluentes formas de geração de energia que se conhece.
Ninguém está defendendo, aqui, o desrespeito à integridade dos povos indígenas. Também estão fora de cogitação práticas autoritárias semelhantes às do passado – que consideravam legítimo, em nome do “progresso”, remover à força os indígenas de suas regiões de origem e instalá-los em lugares distantes, com os quais não tinham a menor identificação.
Isso levou milhares de índios à morte e causou a extinção de algumas nações – o que é inaceitável sob qualquer ponto de vista. O problema é que não se pode substituir uma prática inaceitável por outra.
O que se está dizendo aqui, com todas as letras, é: até o botoque do cacique Raoni sabe que não existe um único indígena ameaçado de morte pela construção de Belo Monte. E mesmo os ambientalistas mais sérios consideram preferível erguer a hidrelétrica do que colocar em risco os milhares de empregos oferecidos pela indústria amazonense.
O que uma coisa tem a ver com a outra? Muito simples: a indústria da Zona Franca atraiu a população do interior para Manaus e, por esse motivo, o Amazonas é – entre todos os estados da região – o que mais preservou sua cobertura florestal.
Sem a energia de Belo Monte, o parque industrial, movido a óleo combustível, no limite, perderá produtividade e se tornará menos competitivo.
Menos competitivas, as fábricas podem fechar. Assim, a população corre o risco de ficar sem emprego e a floresta, com certeza, se tornar seu principal – senão único – meio de subsistência.
Diante da necessidade de sobrevivência, os habitantes de Manaus correm o risco de disputar com os índios caiapós, do Pará, o título de maiores depredadores de toda a Amazônia. Bom senso, OEA, bom senso!
Fonte: Brasil Econômico, 06/04/2011
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