Para complicar a questão do clima: o mundo está de novo com um problema de comida. Estimativas indicam que a população mundial vai saltar dos atuais 6,8 bilhões para pouco mais de 9 bilhões em 2050, um aumento de cerca de um terço.
Mas a demanda por alimentos crescerá mais depressa, porque as pessoas nos países emergentes, na medida em que ganham renda, elevam seu consumo.
Assim, acredita-se que a demanda por comida vai aumentar algo como 70%.
E vai dobrar para a carne. Estatísticas mostram que há uma correlação direta entre o ganho de renda e o consumo de proteínas animais. Ou seja, o pessoal ganha um pouco de dinheiro e vai para o bife (ou hambúrguer etc.). Mas há obstáculos à produção de alimentos: escassez de terras novas (não se pode mais desmatar, por exemplo), restrições no uso da água, mudanças climáticas que podem prejudicar vastas extensões de terras e… biocombustíveis. Estes são uma coisa boa? Certamente. Mas competem com a produção de alimentos.
Logo, não se trata apenas de aumentar a produção de alimentos, mas de fazêlo utilizando menos terras e menos água, em um clima talvez mais hostil e em ambiente de restrições à atividade econômica para evitar a degradação adicional do clima . Se isso for impossível, o mundo estará envolvido em conflitos por comida.
Por via das dúvidas, governos de países que não dispõem de terras suficientes, como China e Arábia Saudita, estão comprando fazendas nas regiões mais férteis da África. Mas a solução global de longo prazo depende de um fator crucial: a tecnologia. Só ela pode propiciar os necessários ganhos de produtividade, que equivalem a produzir mais com menos fatores.
Temos chances? A resposta é positiva.
Primeiro, há um antecedente histórico bem recente. Havia esse mesmo tipo de inquietação lá pelos anos 60, e a “Revolução Verde” deu conta do recado.
Nos últimos anos, os ganhos de produtividade agrícola têm sido menores, mas há muita coisa já em andamento.
Por exemplo: a Embrapa brasileira desenvolve plantas transgênicas (feijão, cana) resistentes à falta de água. Com mudanças genéticas, um boi pode ser criado em muito menos tempo.
Biotecnologia, eis onde os povos sábios devem investir. Combinando isso com engenharia de solos, irrigação e melhor uso de fertilizantes e pesticidas, pode-se multiplicar produção de alimentos e de combustíveis, sem destruir o que resta do planeta.
Vale também para a produção de energia mais limpa. A saída está na tecnologia — em que, aliás, os governos de países ricos, a começar pelos EUA de Obama, investem pesadamente. Na Europa, por exemplo, cientistas depositam enorme esperança na produção de energia pela fusão nuclear.
Portanto, é preciso colocar dinheiro e abrir espaço para a ciência e a inovação tecnológica. O que não pode é fazer como no Brasil, onde o pessoal pede uma economia limpa, mas quer barrar os transgênicos, por exemplo.
Custo Brasil Uma empresa cliente do escritório de advocacia Eduardo Fleury, de São Paulo, recebeu 25 notificações da Receita Federal, todas apontando inconsistências na compensação de impostos. A solução mais simples é retificar a declaração.
Mas não pode.
A empresa precisa se defender, ou seja, apresentar recurso para cada notificação.
Só isso já exigiu 25 procurações.
Mas havia mais.
Para protocolar os recursos, foi preciso enviar um funcionário à Receita Federal, onde deveria apanhar uma senha e entrar na fila para formalizar o ato. Mas cada pessoa só pode pegar três senhas.
Conclusão: o escritório, para defender seu cliente em 21 notificações, teve de enviar quatro estagiários e três advogados.
Cada um deles gastou quatro horas entre deslocamento, fila e formalização de cada protocolo, o que significa receber… um carimbo.
Segundo a pesquisa “Fazendo Negócios”, do Banco Mundial, uma empresa brasileira gasta em média cerca de 2.600 horas/ano de trabalho para manter em dia suas obrigações fiscais.
Naquele caso foram 28 horas só para protocolar a defesa.
Colaboração Cara leitora, caro leitor: se tiver alguma história dessas, mostrando a dificuldade de ser legal no país, pode mandar para o email abaixo. Obrigado.
(O Globo – 17/12/2009)
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