Todo fim de ano publico um artigo sobre as perspectivas econômicas para o ano seguinte. Nos últimos quatro anos, previ que o crescimento econômico decepcionaria. Infelizmente, nos três anos que já se passaram, essas previsões se concretizaram. Em 2014, não é preciso nem esperar o fim do ano. Terminado o primeiro trimestre, já há elementos suficientes para afirmar que haverá mais decepção em 2015.
Dois fatores que permitiram que o Brasil avançasse 2,5 vezes mais rápido entre 2004 e 2010 do que antes se esgotaram: incorporação de mão de obra e maior utilização da infraestrutura já existente. Desde 2003, quase 20 milhões de brasileiros sem emprego passaram a trabalhar. O desemprego caiu de 12% para 5%.
Quanto à infraestrutura, dificuldades financeiras e operacionais no setor público e problemas regulatórios impediram um crescimento dos investimentos na magnitude necessária, criando um apertado gargalo para o desenvolvimento. Só poderíamos crescer como antes acelerando a produtividade, o que exigiria trabalhadores mais bem preparados e equipados. Como não investimos o bastante em educação e treinamento, nem em máquinas, a taxa média anual de expansão do PIB desde 2011 caiu para apenas 2% e em 2014 continuará nesse ritmo. Pior, há razões para crer que o crescimento vá desacelerar em 2015.
[su_quote]Ganhe quem ganhar a eleição, em 2015 o crescimento será ainda muito baixo e talvez até negativo[/su_quote]
Não apenas crescemos pouco, mas bagunçamos a casa. Piorou o desempenho das contas externas e das contas públicas e a inflação subiu. Cedo ou tarde, esses desequilíbrios terão de ser corrigidos. Enquanto os ajustes forem feitos, provavelmente em 2015, nossa economia crescerá ainda menos. Para limitar a deterioração da balança comercial e tentar proteger nossa indústria dos importados, o governo desvalorizou o real, aumentou impostos sobre produtos estrangeiros, compras no Exterior e em sites de importados. Isso permitiu que a indústria nacional elevasse preços e recompusesse suas margens. Às altas de preços dos produtos industrializados somaram-se fortes elevações dos preços dos serviços, mantendo a inflação acima da meta de 4,5% ao ano desde 2009.
A inflação não está apenas elevada, está grávida. O dragãozinho dos preços controlados pelo governo nasce após as eleições. Há mais de um ano, os preços de ônibus, metrô, gasolina, energia elétrica e outros têm sido represados para conter a inflação e as manifestações de rua. Esses preços terão de ser realinhados para evitar o colapso dos serviços e das contas públicas. Só a diferença entre o preço internacional do petróleo e os preços nacionais de seus derivados custa à Petrobras mais de R$ 40 bilhões anuais. A utilização de usinas termoelétricas para geração de energia elétrica custará de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões só neste ano, e mais ainda em 2015. A renúncia fiscal com a desoneração de salários custará mais R$ 24 bilhões só em 2014. O ajuste das contas públicas é inevitável. Ele virá através de elevação de preços, corte de gastos do governo ou aumento de impostos, provavelmente os três. Os reajustes pressionarão a inflação, forçando o BC a aumentar ainda mais os juros, que já estão no nível mais alto desde 2011, limitando o crédito e reduzindo o crescimento. Aumentos de impostos e redução de gastos do governo devem retirar dinheiro da economia em 2015.
Além do risco de racionamento de energia, há riscos externos de uma nova crise global. Desde 2008, os bancos centrais dos países desenvolvidos injetaram volumes colossais de dinheiro em suas economias, o que causou várias bolhas. Pelas suas proporções, dois riscos se destacam. Primeiro, as bolhas imobiliária e de crédito chinesas. No Brasil, construímos cerca de 400 mil novas moradias em 2013. Na China, foram 55 vezes mais. Há ainda o megaendividamento das empresas chinesas. O crescimento dos empréstimos locais a empresas chinesas desde 2008 sozinho é maior do que toda a dívida corporativa nos EUA, mas há ainda o endividamento externo. Em 2008, menos de 2% dos financiamentos globais em dólares, euros e ienes iam para empresas chinesas. No ano passado, foram 39%. Os calotes já começaram e as consequências podem atingir proporções parecidas às da crise do Lehman Brothers em 2008. Segundo, a Bolsa americana. Pelas minhas estimativas, ela está quase 80% acima de seu preço justo. Desde 1870, isso só aconteceu em 1929 e 2000. O resultado das eleições será fundamental para a economia brasileira, mas, ganhe quem ganhar, em 2015 o crescimento será ainda muito baixo e talvez até negativo.
Fonte: Isto é, 11/4/2014
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