Jorge Paulo Lemann tem uma frase famosa que diz que “sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho”. O pensamento do bilionário é um dos mantras do argentino Federico Vega, de 37 anos. Ele encarou o desafio de criar uma startup no Brasil com o objetivo de revolucionar o transporte de cargas no Brasil.
Vega é o fundador da CargoX, uma transportadora que usa a tecnologia para conectar empresas a caminhoneiros e tornar o transporte mais seguro e eficiente.
Em seus primeiros anos no Brasil, o argentino sofreu para fazer a startup engrenar – recebeu, segundo ele, mais de 100 negativas de investidores – mas finalmente deu tração ao negócio. Em 2017, a CargoX faturou R$ 150 milhões.
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Nascido na Patagônia, região ao sul da Argentina e afastada dos grandes centros urbanos do país. Após terminar o colegial, Vega decidiu fazer uma viagem de bicicleta pela América do Sul. Nessas viagens, dormia nas paradas de caminhoneiros, locais mais seguros na estrada. “Fui conversando com eles e comecei a entender seus problemas: a falta de segurança, salários baixos e as jornadas extensas, entre outras insatisfações”, afirma Vega.
Mas o trabalho com os caminhoneiros ficou para anos mais tarde. Foi estudar economia. Depois, foi fazer um mestrado na Universidade de Southampton, na Inglaterra. Acabou sendo chamado para trabalhar para o JPMorgan, um dos maiores bancos do planeta, em Londres.
Depois de cinco anos no JPMorgan e de ter atingido o cargo de vice-presidência de vendas para a América Latina, Vega começou a refletir se o trabalho o satisfaria no longo prazo. “O salário era muito bom. Mas via as pessoas que estavam lá há mais tempo e percebi que não gostaria de ficar 20 anos fazendo aqui. Queria criar algo que realmente trouxesse algum valor para o mundo. Vi que o empreendedorismo era o melhor caminho para isso”, diz Vega, que se demitiu em 2011.
Em seguida, o argentino começou a pensar no que empreender. E onde. Descartou rapidamente mercados mais desenvolvidos. “Ir para o Vale do Silício, nos Estados Unidos, ou continuar na Europa, não estavam nos planos. São regiões com poucos problemas, então é mais difícil criar soluções que realmente façam a diferença.”
Vega, então, decidiu empreender na América Latina, mas não quis empreender na Argentina. Pensou grande. “O Brasil é o maior país da região. Vou abrir um negócio lá”, diz.
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Mas no que atuar? Foi aí que se lembrou das conversas com os caminhoneiros, na adolescência. “É um mercado com muitos problemas, mas com oportunidades gigantescas. Temos 2 milhões de caminhoneiros no Brasil, mais ou menos 1% da população. É um mercado importante. Pensei que, se trabalhasse para oferecer soluções para o setor, poderia fazer muito sucesso.”
Em novembro de 2011, nascia a CargoX. A proposta era conectar empresas que precisassem de algum transporte de cargas a motoristas autônomos.
Mas o início não foi fácil. Vega precisava de dinheiro para tirar o negócio do papel, mas não conseguia. “Os investidores brasileiros diziam que eu não tinha conhecimento suficiente sobre o país e sobre logística, por mais que tenha me preparado muito para fazer sucesso com esse negócio”, afirma o empreendedor.
Sem conseguir dinheiro com os brasileiros, foi buscar dinheiro nos Estados Unidos. Lá, a história foi diferente e ele conquistou o apoio de três “pesos pesados” do mundo dos negócios: a CargoX recebeu investimentos do banco Goldman Sachs; de Oscar Salazar, cofundador do Uber – e que planejava criar um negócio semelhante ao de Vega, mas decidiu apoiá-lo; e de Eddie Leshin, fundador da Coyote, startup americana com atuação semelhante à CargoX.
Com o apoio dos americanos, a CargoX ganhou tração. Segundo Vega, alguns dos mesmos investidores brasileiros que negaram ajuda o procuraram. “Mas aí era tarde.” O serviço da CargoX funciona assim. A empresa interessada no transporte de alguma carga solicitam o serviço no site da startup. Os caminhoneiros, por sua vez, são avisados por meio de um aplicativo da startup ou por telefone quando há trabalho disponível.
De acordo com Vega, a CargoX usa a tecnologia para oferecer um serviço melhor que o das transportadoras tradicionais, tanto para os motoristas quanto para quem contrata o serviço. No caso dos caminhoneiros, a CargoX encaminha serviços para quem fez uma entrega anteriormente e está voltando para casa com o caminhão vazio.
Outro ponto positivo é que, se a CargoX percebe que há rotas mais visadas por bandidos, a empresa sugere caminhos mais seguros – o que também é bom para quem contrata o serviço, que não ficará no prejuízo em um eventual roubo de cargas.
Uma vantagem adicional para os donos das cargas é a possibilidade de monitorar, por geolocalização, onde está o caminhão e perceber se tudo está bem.
A maior parte dos clientes da CargoX são grandes empresas. Entre elas, destacam-se Ambev, Heineken, Unilever, Kraft e Votorantim. Do outro lado dessa relação, estão cerca de 250 mil caminhoneiros que já transportaram cargas com a ajuda da startup.
Em 2017, a CargoX faturou R$ 150 milhões. O dinheiro vem de taxas, pagas pelas clientes da startup. De acordo com Vega, a meta é que, neste ano, sua empresa chegue a uma receita de R$ 600 milhões.
A internacionalização, especialmente para outros países da América Latina, deve acontecer em breve. “Estamos aprimorando o nosso modelo de negócio para que sejamos imbatíveis nos mercados em que atuarmos”, diz.
Fonte: “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”