Profissionais de diferentes gerações e com propostas distintas sobre a educação se reuniram hoje para trocar ideias no seminário “Qual modelo de educação o Brasil necessita” na Fundação Getúlio Vargas (FGV), das 14 às 18h, em Botafogo, no Rio.
O seminário é divido em dois grandes blocos. O painel “O debate sobre educação no Brasil: Mais do mesmo ou avanços reais” tem participação de Ricardo Henriques, do Instituto Unibanco; Arnaldo Niskier,presidente do CIEE/Rio; Simon Schwartzman, pesquisador do IETS/Rio; e João Batista Araujo e Oliveira, do Instituto Alfa e Beto. Já o painel “Educação e desenvolvimento: Inovar para crescer” conta com a presença de Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da FGV/Rio; Gustavo Brito, do Extramuros; e José Brito Cunha, do canal “Futura”.
Entre os temas debatidos pelos palestrantes estão: o Movimento pela Base Nacional Comum, a evasão do ensino médio, gestão de recursos, desenvolvimento econômico e novas tecnologias. O evento é uma parceria do Instituto Millenium com a FGV/Rio.
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Política Nacional de Educação
O membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Arnaldo Niskier, diz que o Brasil não possui uma política nacional de educação clara.
“A Lei de Diretrizes e Bases (LDB), relatada pelo senador Darci Ribeiro há 20 anos, na qual colaborei no capítulo do ensino a distância, tem 92 artigos e 35 modificações por meio de PECs. A lei brasileira de educação é uma bagunça, não se sustenta. Ela não estabelece o que se entende por política nacional de educação.”
Base Curricular Comum
O executivo do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, mostra como a adoção de uma Base Curricular Comum tende a impactar de maneira positiva na organização do ensino no Brasil. Segundo Henriques, a base impactaria sobre os cursos de pedagogia e licenciatura que, na opinião dele, estão descolados do ensino. “A quantidade de tempo dispensada a prática didática e gestão na formação dos professores é irrisória”.
O engessamento do atual currículo é, de acordo com Henriques, o maior problema do sistema. “Os conteúdos não dialogam com o mundo dos jovens, a definição das competências e habilidades exigidas dos estudantes é imprecisa, o ensino tem uma perspectiva enciclopédica, são 13 disciplinas obrigatórias, há baixa articulação entre os conteúdos”.
Medida Provisória do Ensino Médio
Simon Schwartzman ressaltou os pontos positivos das mudanças propostas pela Medida Provisória que mexeu com o currículo nacional. “O projeto tem algumas coisas importantes, ele reduz o volume de matérias obrigatórias, dá aos alunos a possibilidade de opção, devolve autonomia para os estados e garante a base curricular comum. Além disso, a medida trás a formação técnica para o debate”.
Schwartzman diz que a medida não tocou em aspectos importantes da educação nacional como as formas de avaliação do Ensino Médio: “O Enem é um monstro”. O especialista também lembra que é preciso dar especial atenção a adoção do ensino integral. Schwartzman diz ainda que é preciso acabar com o ensino médio noturno.
PEC 241
Sobre a PEC 241, Schwartzman diz que o Ministério da Educação tem um orçamento gigantesco, no entanto, esse dinheiro é jogado fora devido ao seu mau uso. O professor lembra que não existe nenhum estudo que demonstre a relação entre a qualidade do ensino e o aumento das verbas destinadas a educação.
Na mesma linha de pensamento, João Batista Araujo e Oliveira acredita que é preciso racionalizar os gastos em educação.
Atraso
O economista Pedro Cavalcante Ferreira acredita que o atraso da educação brasileira está relacionado com o modelo de desenvolvimento brasileiro. O professor da FGV diz que seguimos um modelo de desenvolvimento parecido com o que o historiador Nathaniel Leff denominou como “máquina de criar pobres”, que coloca mão de obra pouco qualificada e com baixa capacidade de gerar renda. Ferreira explica que o Brasil, diferentemente da Coréia do Sul, adotou um modelo baseado na economia fechada, com baixa poupança e baixo investimento em educação.
Sistema educacional
Gustavo Brito critica o foco do sistema educacional brasileiro. O fundador do Extramuros diz que os estudantes são preparados desde cedo para uma corrida, que é materializada no Enem. Apesar de ser voltado para esse objetivo, Brito destaca que 1 em cada 2 ou 49% dos estudantes abandonam o ensino superior antes do seu término. “O nosso sistema educacional e construído por pontes de papel”.
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