Em uma das aulas que ministramos para determinada turma do Curso de Graduação em Direito de uma das quatro maiores e melhores Universidades da Capital paulistana, oferecemos uma proposta aos alunos, os quais não sabiam ser a mesma fictícia.
A proposta consistia em assumir o cargo de estagiário em um grande e inominado escritório de direito com um salário cerca de quatro vezes superior a media do mercado. A contrapartida seria assinar contratos assumindo a responsabilidade de licitações e obrigações talvez suspeitas diante de eventual fiscalização.
Entre os aproximadamente 120 alunos presentes, mais da metade levantou a mão a fim de receber os dados para se candidatar. Claro, nossa pergunta seguinte foi: mas, mesmo sendo para algo escuso moralmente, você está disposto? O resumo das respostas foi o seguinte: pagando bem, que mal tem?
Sendo a disciplina Filosofia do Direito, em continuidade à Ética ministrada por outro professor em semestre anterior, claro que tecemos as devidas considerações junto à turma, enfatizando ser essencial manter e transmitir valores que possam ser continuados por muitas gerações, como a boa e saudável sensação de deitar a cabeça no travesseiro toda noite sem ter a consciência manchada e pesada.
O que de fato assusta é o resultado crescente no número de mãos levantadas a cada nova turma. A fome pelo sucesso – fama e dinheiro – entre os jovens que buscam cursos superiores mostra um quadro de desesperança na honestidade e um imediatismo material e narcisista disposto a qualquer custo.
O que observamos quanto ao tema em si não difere de outras tendências ditadas no dito Primeiro Mundo. Moda, música e estilos são adotados no terceiro mundo com algum tempo de defasagem em relação à potência econômica originária. O mesmo se aplica em relação às cidades do interior e às capitais dos Estados Federados brasileiros.
Ainda que leve cada vez menos tempo para que a música e a roupa da moda vigentes em grandes capitais estaduais cheguem aos municípios menos abastados, tal lapso temporal existe.
Como a honestidade e a conduta ética não estão na moda, nem nos países desenvolvidos e tampouco nos menos desenvolvidos, existe uma preocupação autêntica quanto ao tempo demandado para que nossas gerações de discentes percebam serem as condutas ética e moral pontos fundamentais à continuidade da espécie com qualidade e garantia de sobrevivência.
Tais considerações se prestam a avaliar outro quadro concomitante. A apatia frente às notícias de corrupção e descaso, minimamente dos parlamentares brasileiros.
Não se trata do aluno desconhecer teorias como a de Rousseau ou Montesquieu, ou ainda outras mais novas e aplicáveis. Trata-se dos discentes considerarem completamente inúteis e inaplicáveis conceitos como tecido social, cidadão, democracia, cidadania, moralidade, justiça, justo e bem comum.
Questionados quanto às fontes de tais sentimentos e conclusões, quase a totalidade aponta a própria família. Frases soltas em suas residências, seja comemorando uma vantagem (indevida ou não) ou de escárnio quanto aos que são corretos, adjetivados de “trouxas”.
Afinal, o que pretendemos oferecer como continuidade para nossos descendentes? Um mundo ideal e utópico, por certo, não. Ninguém deseja um filho ou neto exposto ao ridículo. Contudo, existe uma diferença entre ser ridículo e ser mercenário frente à própria consciência e valores aprendidos dentro de casa.
Exemplos que mostrem ser possível trabalhar o suficiente, ganhar o digno, inventar o que some socialmente, agir de forma objetiva e solidária, e ter sucesso de forma honesta, resumem os insumos que precisamos para auxiliar as gerações presentes e formar as gerações futuras.
Nada de inocência obtusa ou subjetividade. Estudamos com freqüência as Teorias do Sistema e suas ciências conexas. Sem ingenuidades. Nenhuma tese radical oferece mudança consistente. Entretanto, nada que se acomoda sem gerar bem comum merece subsistir por muito tempo.
Somos todos professores e alunos. É a isto que a vida se presta.
Haverá um tempo em que os que possuem muito perceberão tal inutilidade. Os que têm pouco almejarão um pouco mais, e não o montante do desperdício. E os que têm na medida da felicidade, seguirão como exemplo aos demais, felizes. Até porque a felicidade como objetivo de vida é um dos termos mais freqüentes na Filosofia de boa qualidade. Só os infelizes é que duvidam disso.
No Comment! Be the first one.