A informação publicada com exclusividade na reportagem em destaque desta edição revela mais um gesto na queda de braços que o governo trava com os bancos privados em torno da redução do custo do dinheiro no Brasil.
Depois de abrir guerra contra os juros propriamente ditos, em maio deste ano, e atacar em seguida as taxas de administração dos fundos de investimentos, Brasília avançará nos próximos dias sobre as tarifas que as instituições cobram pelos serviços.
A ideia – que coincide com o anúncio feito pelo Itaú e pelo Bradesco de redução do volume de crédito previsto para este ano – é fazer com que o Banco do Brasil e a Caixa baixem as tarifas que incidem sobre o talão de cheques, as cobranças de boletos, as transações com cartões e assim por diante.
Pela lógica dos movimentos anteriores do governo, isso forçará os bancos privados a seguir o mesmo caminho ou, então, correr o risco de ver clientes migrarem para as instituições federais.
Pode ser que dê certo e que o efeito dessa mexida nas tarifas gere, de fato, benefícios para a população. E que, para o país, gere a reação em cadeia que, tudo indica, está por trás de cada movimento nessa disputa.
O raciocínio não poderia ser mais simples: eliminando-se as fontes mais imediatas de lucro das grandes instituições privadas, elas se veem obrigadas a aumentar a concessão de empréstimos.
Com isso, o consumo aumenta, a economia se aquece e o Brasil volta a crescer. Em outras palavras, o efeito da redução das tarifas é a elevação do PIB. Será?
Seria excelente para todo mundo se tudo fosse assim tão simples. Mas, infelizmente, há mais degraus entre as tarifas bancárias e o PIB do que pode supor nossa vã economia. Que os serviços bancários no país são caros, todo mundo sabe. Mas, em seu esforço pela redução do custo do dinheiro, o governo ainda não se prontificou a alterar uma variável fundamental, que está sob seu controle exclusivo.
O famigerado Imposto sobre Operações Financeiras, IOF, é um dos tributos que ajudam a puxar para cima o custo do dinheiro no Brasil.
A alíquota chega a representar 2,5% sobre o valor financiado – o que equivale, no caso de um empréstimo com prazo de 12 meses, a um valor superior ao dos juros totais ao consumidor em diversos países desenvolvidos. Ou seja: se o governo quisesse mesmo baixar o custo do dinheiro, já deveria ter eliminado esse imposto.
Como ainda não o fez, o sinal que fica é o de que, por trás de todo esse movimento, existe apenas uma cruzada que visa não só beneficiar a população, mas também prejudicar os bancos – ou melhor, os banqueiros.
O Brasil precisa, sim, de dinheiro barato para financiar seu desenvolvimento. A questão é como fazer isso num mercado com estoque reduzido de poupança, onde os depositantes reivindicam juros estratosféricos e os tomadores se queixam (com razão) de ter que pagar o preço de dois carros (ou, com as novas taxas, de um carro e meio) pelo automóvel que compram à prestação?
A receita existe – e não custa nada dizer que essas mudanças pontuais, que alteram partes que não têm o poder de mudar a lógica do todo, não são a solução que o país espera. Não são mesmo.
Fonte: Brasil Econômico, 25/07/2012
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