Com oito mil habitantes, cidade tirou a maior nota no índice para o 1º ao 5º ano
O menino Felipe Gomes, de 11 anos, ainda não sabe o que vai ser quando crescer, mas já aprendeu na escola a gostar de matemática. O prazer de estudar não é à toa: a cidade onde ele mora, a pequena Comendador Levy Gasparian, com pouco mais de oito mil habitantes, no Centro-Sul Fluminense, teve o melhor desempenho do estado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º). Levy Gasparian passou na “prova” com nota de 6,5 graças ao horário integral para alunos com problemas de aprendizado e ao planejamento das aulas. No caso de Felipe, a comemoração é dupla, porque a Escola São João Batista, onde estuda o menino, alcançou o melhor índice do segmento — 6,9 — entre as seis unidades da rede municipal, que tem ao todo 1.500 alunos.
E o exemplo de Levy Gasparian não é o único. Os dados do Ideb 2013 mostram que pequenas cidades do interior do estado lideram o ranking de desempenho. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o município de Paty do Alferes, com 26 mil habitantes e na mesma região, ocupa o segundo lugar, com 6,2. Já nos anos finais do fundamental (6º ao 9º), a liderança ficou com Miracema, também com 26 mil habitantes, na Região Noroeste: 5,4. O índice leva em conta notas de português e matemática em uma prova aplicada em todo o país e o fluxo de aprovação dos alunos.
Tempo de planejamento de aula
Desde 2009, duas escolas municipais foram construídas em Levy Gasparian e as quatro já existentes na cidade foram reformadas e ganharam novo mobiliário e climatização. A obra da maior delas — a São João Batista, que tem 610 alunos do 1º ao 9º ano — foi concluída no ano passado. Felipe, que estuda lá desde os 3 anos de idade, sentiu a diferença. Ele diz ter gostado das salas espaçosas e das cadeiras mais confortáveis. Para o aluno, a tela interativa, novidade presente em três salas de aula, deixa os conteúdos mais interessantes.
A diretora da escola de Felipe, Adriana Berião, diz que o horário de planejamento dos professores foi o fator mais importante para a boa colocação do município no Ideb. Em todas as escolas da rede municipal, cada professor tem quatro horas por semana para pesquisar, estudar e corrigir provas dentro do colégio. A secretária de Educação e Cultura, Ana Paula de Oliveira, afirma que essa é melhor forma de investir na formação de educadores.
— A quantidade de horas ainda é menor que as seis horas exigidas pela lei federal, que representam um terço da carga horária — pondera a secretária.
Os professores de Levy Gasparian também contam com o apoio de um coordenador pedagógico por turno e uma equipe multidisciplinar, com fonoaudiólogos, psicólogos e psicopedagogos. Apesar de enfrentar dificuldades diferentes, Edna Lúcia de Souza, diretora do Ciep Padre Joaquim Chaves de Figueiredo (a segunda maior escola municipal da cidade, com 460 alunos), repete a fórmula da diretora do São João Batista.
— O planejamento é a hora em que conseguimos juntar e ouvir as professoras. Elas têm tempo de trocar ideias e boas práticas para conseguir um melhor desempenho. Também damos apoio pedagógico. Assim, sobra mais tempo para a família, e o profissional fica mais satisfeito — avalia a diretora.
Os alunos do 9º anos de Levy Gasparian não tiveram o mesmo desempenho de seus colegas mais novos. A nota atingida no Ideb por essa faixa etária (na redes municipal e estadual) foi de 3,9, a mesma média da rede pública de todo o estado, mas abaixo da meta projetada para 2013, de 4,8. A falta de interesse dos alunos mais velhos é justamente o maior desafio enfrentado por Adriana Berião. De acordo com a diretora do São João Batista, os jovens do 6º ao 9º ano são resistentes em relação aos trabalhos pedidos pelos professores:
— Os alunos dessa faixa não fazem a prova com atenção. Mexem no celular em vez de prestar atenção nas aulas. Os próprios pais param de cobrar. Para mudar isso, estamos focando na obrigatoriedade do dever de casa — ressaltou Berião.
Mais horas na escola
Para evitar a evasão escolar, a prefeitura oferece transporte escolar para todos os alunos. A frota conta com cinco ônibus para buscar as crianças em casa, além de quatro kombis e um micro-ônibus, que atendem os que moram na zona rural. Os alunos com mais dificuldade participam do programa Mais Escola, do Governo Federal, e ficam sete horas no colégio — três a mais que o turno normal, de quatro horas. No horário extra, eles têm aulas de desenho e produção de textos. Na São João Batista, são 120 crianças no programa.
O prefeito da cidade, Cláudio Mannarino, espera que o bom desempenho no Ideb possa atrair novas empresas. Ele diz que o município conseguiu superar uma fase de depressão econômica após a decadência da indústria têxtil na região. A economia gira hoje em torno de pequenas e médias indústrias de plástico e embutidos.
Fonte: O Globo
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