A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, que acompanha o mercado de trabalho brasileiro, vai continuar a ser divulgada pelo IBGE. O instituto anunciou nesta segunda-feira sua decisão de voltar atrás na suspensão da pesquisa até o ano que vem. Em 3 de junho, a taxa de desemprego nacional do primeiro trimestre deste ano vai ser divulgada normalmente.
É o desfecho de uma crise institucional vivida pelo IBGE desde 10 de abril, quando foi anunciada a interrupção da nova pesquisa de desemprego, mais abrangente ao cnesta segunda-feiraplar todo o território brasileiro em contraponto à Pesquisa Mensal de Emprego, usada até então para acompanhar o comportamento do mercado de trabalho, restrita a seis regiões.
A decisão do Conselho Diretor motivou a exoneração da diretora de Pesquisas, Márcia Quinstlr, e de Denise Briz, da Escola Nacional Ciências Estatísticas (Ence). Logo em seguida, todos os coordenadores e gerentes ameaçaram se demitir, e o corpo técnico soltou carta aberta à sociedade repudiando a medida.
O motivo da suspensão fora um erro do instituto sobre os prazos para informar o rendimento domiciliar per capita para efeitos da distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados. O IBGE acreditava que seria em janeiro de 2016 e a lei sobre o tema determinava janeiro de 2015. Até agora, a divisão da renda para os estados usa como base o PIB per capita.
Segundo a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, a diretora de Pesquisa em exercício Zélia Bianchini mostrou que os dados do primeiro trimestre de 2014 ficarão prontos a tempo.
— Não prendemos dados prontos, eles têm que ir para rua. Eles montaram um cronograma de trabalho para atender à lei. Zélia mostrou um conjunto de informações suficientes para tomarmos essa decisão com segurança.
Na época da interrupção, a senadora Gleisi Hoffmann fez um requerimento ao Ministério do Planejamento, ao qual o IBGE é subordinado, sobre o calendário das divulgações do IBGE não conter a previsão de rendimento. Nesse momento veio uma reação em cadeia, com registro de requerimento da oposição no Congresso para convocar o IBGE a dar explicações.
O argumento era que a taxa de desemprego da Pnad Contínua de 7,4% era superior à da PME de 5%, e que o governo teria pressionado para que a pesquisa fosse interrompida até depois das eleições.
Para Ana Carla Magni, da Associação dos Funcionários do IBGE, o recuo mostra que os técnicos estavam certos desde o início.
— Vitória dos técnicos que, desde o início, disseram que não havia motivos para interromper a divulgação da pesquisa. Mas a decisão não estanca a crise. Está explícito que o IBGE está sendo desmontado e que essa direção não sabe o que fazer à frente de uma das instituições mais importantes do país.
‘Corpo técnico defende a instituição’
Os técnicos não foram consultados sobre a decisão do Conselho Diretor de suspender a Pnad Contínua, erro admitido por Wasmália, que após a reação dos funcionários afirmou que poderia voltar atrás na decisão. Segundo a presidente, o grupo de trabalho montado por 27 técnicos das coordenações de Trabalho e Rendimento, Qualidade e Método, População e Indicadores Sociais e Contas Nacionais montou um cronograma e uma forma de ter as informações de renda, sem prejuízo para o cronograma de divulgação já estabelecido e da qualidade no dado de renda que será usado na repartição do dinheiro entre os estados.
— As informações de renda iriam vir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) que foi adiada para o ano que vem, diante da falta de pessoal. O que será feito é trazer um módulo da POF sobre rendimento para ser adaptado à Pnad. O que pode ser feito, já que montamos um sistema integrado de pesquisas domiciliares — informou Wasmália, que vai se reunir com os 27 técnicos hoje, para ter acesso aos detalhes do trabalho que está sendo feito.
Para ela, o instituto sai até bem dessa crise, “por ter um corpo técnico que defende a instituição”:
— Diante das dificuldades, estávamos liberando o pessoal de mais esse trabalho e eles brigaram para assumir essa responsabilidade. É uma mensagem para sociedade do que é o IBGE.
Mais de 400 aposentados este ano
Wasmália reafirma que não houve ingerência política e que a decisão de interromper a divulgação do levantamento fora para evitar mais sobrecarga de trabalho aos técnicos diante da obrigação legal irremediável.
— Eles teriam que antecipar a divulgação da renda em um ano, mais trabalho especialmente no ritmo de redução de pessoal que estamos vivendo. Foram 409 pessoas que se aposentaram nesses quatro meses do ano. É algo inédito no IBGE. Só em janeiro foram 223. Durante todo o ano passado, foram 370 afastados.
Em fevereiro do ano que vem, os brasileiros irão conhecer a taxa de desemprego, o rendimento e outros indicadores de mercado de trabalho do Brasil, dos estados, das regiões metropolitanas e dos municípios da capital de 2012 até o quarto trimestre deste ano. Até agora, só haviam sido divulgados os dados do Brasil e das grandes regiões até o fim de 2013. A taxa começou no ano passado em 7,9% e terminou em 6,2%.
Fonte: O Globo
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