A ata do último Comitê de Política Monetária (Copom) revelou que o foco do Comitê com a inflação se moveu para 2014; a alta de preços em 2013 já estaria dada, pelo menos para fins de fixação da taxa Selic. Faz algum sentido, afinal faltam oito meses para o ano acabar e, com reuniões a cada 45 dias e altas homeopáticas dos juros, o impacto do aperto monetário sobre a inflação deste ano será pequeno.
Enquanto o Banco Central (BC) parece considerar 2013 um ano perdido – ao menos em termos de trazer a inflação para a meta de 4,5%, ou perto -, vários analistas começam a ter a mesma visão sobre os próximos 20 meses em relação ao todo da política econômica. Em especial, que a antecipação da disputa presidencial e os compromissos do governo com as políticas adotadas no último biênio limitam e distorcem o uso dos instrumentos de política econômica, de tal sorte que o espaço para se controlar a inflação e melhorar a qualidade da política fiscal e do ambiente de negócios é bastante restrito.
Assim, a aposta é que as distorções na economia aumentarão e os desequilíbrios não serão enfrentados, nem neste, nem no próximo ano. Isso só ocorreria após as eleições, em especial em 2015. Uma questão, menos óbvia do que pode parecer, é: mudar em que direção?
Há sinais de que a recuperação econômica este ano, apesar de um bom primeiro trimestre, não será nada espetacular. Em especial, setores que vinham apresentando grande dinamismo, como comércio e construção, não devem repetir seu bom desempenho. Isso tem importante implicação eleitoral, pois esses setores respondem por parcela considerável do emprego.
Tanto a política fiscal como a de crédito público estarão, como já anunciado, voltadas para estimular o crescimento. Isso se traduzirá em um superávit primário mais baixo e, possivelmente, como ocorre há alguns anos, perda de transparência nas contas públicas. É bem possível que, depois de vários anos em queda, a dívida líquida do setor público suba como proporção do PIB, inclusive pela alta dos juros básicos.
Em relação à inflação, o objetivo central será cumprir a meta em 2013 e 2014 – o que, na visão oficial, se traduz por mantê-la abaixo de 6,5%. Só que isso será alcançado por meio de medidas pontuais, cujo efeito se esgota no curto prazo. São exemplos o controle do preço da gasolina, a queda das tarifas de eletricidade, o adiamento do reajuste das tarifas de ônibus, e as variadas isenções tributárias, assim como o uso do Tesouro para subsidiar produtores para evitar aumentos de preços.
Além de não controlar a inflação essas medidas pioram a situação das contas públicas e estimulam a demanda por esses bens e serviços, elevando as pressões de demanda. Isso significa que chegaremos a 2015 com uma considerável inflação reprimida, que em algum momento precisará ser repassada para os preços.
As contas externas também devem piorar nos próximos 20 meses. Nesse período, o crescimento mundial permanecerá fraco e, especialmente importante, a Ásia emergente deverá crescer mais devagar. Isso prejudicará nossas exportações e reverterá parte do excepcional ganho de termos de troca dos últimos anos. De fato, no acumulado dos últimos doze meses nossas exportações já caíram 7,1%, com queda de 5,4% nos preços. Nesse quadro, é possível que o BC seja forçado a gastar parte das reservas para evitar uma desvalorização maior do câmbio.
Some-se a isso que nesse período a política monetária americana se tornará gradualmente menos expansionista, enxugando parte da grande liquidez hoje existente no mercado internacional. Isso significa que teremos menos facilidade para financiar um déficit externo em rápida expansão.
A resposta de política econômica que vários analistas preveem para 2015 envolverá um forte ajuste fiscal, com corte de gastos e reversão de várias das isenções já concedidas e a serem ainda adotadas. Em que pese a contração fiscal, a alta de impostos e a correção de alguns preços, como de gasolina e eletricidade, devem elevar a inflação e exigir uma alta dos juros maior do que o Banco Central parece ter planejado para o período pré-eleitoral.
O ritmo de atividade econômica deverá desacelerar e o mercado de trabalho piorar, com alta do desemprego e queda dos rendimentos reais. Isso ajudará a controlar a inflação. Por outro lado, afetará a saúde do sistema financeiro, em especial dos bancos públicos, que têm expandido agressivamente suas carteiras de crédito: em 2012, 21% além da inflação. Em um primeiro momento, pelo menos, é provável que se deixe o real valorizar para ajudar no controle inflacionário.
Mais do que uma previsão, porém, esse ajuste é antes um desejo de muitos analistas. De fato, o Brasil acumulou alguns bons indicadores econômicos nos últimos 20 anos, criando “gordura” para não apenas aguentar as distorções acumuladas no período pré-eleitoral, como até para acentuá-las, se essa for a opção. Portanto, a direção da mudança em 2015 não está dada. Assim, se a Copa vai trazer emoções, imagine depois da Copa.
Fonte: Valor Econômico, 03/05/2013
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