O crescimento da economia brasileira será maior no próximo ano, mas as contas externas serão mais fracas que em 2011, segundo as novas projeções do Banco Central (BC). Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, referiu-se ao déficit comercial dos manufaturados, cerca de US$ 88 bilhões até outubro, como “o principal problema” do País, neste momento. Se a bola de cristal do BC estiver bem regulada, o ministro terá mais um motivo para dar atenção ao comércio exterior e, de modo especial, às condições de atuação da indústria. Pelas novas estimativas, o valor das exportações deverá chegar a US$ 267 bilhões em 2012, com elevação de apenas 4,3%. Em contrapartida, as importações deverão aumentar 7% e atingir US$ 244 bilhões. Haverá uma inversão no desempenho: a receita calculada para 2011, US$ 256 bilhões, deve ser 26,7% maior que a do ano passado, enquanto a despesa deve ter um crescimento pouco menor, de 25,3%.
Exportações em crescimento mais lento são compatíveis com um cenário de crise na Europa e nos Estados Unidos e expansão provavelmente mais lenta na China. Se esse quadro se confirmar, a receita obtida com os produtos básicos e semimanufaturados crescerá menos que em 2011, porque a evolução das cotações será menos favorável. Neste ano, até novembro, os básicos e semimanufaturados proporcionaram US$ 145,2 bilhões, 62,1% do valor total.
Um crescimento maior e sustentado pelo consumo se refletirá nas importações. Em 2011, até novembro, bens de capital só representaram 21,1% do valor importado. Será reproduzido o quadro observado em anos de expansão econômica maior que a de 2011, quando as compras externas avançaram mais velozmente que as vendas. O desemprego continuará baixo nos próximos meses, disse o presidente Alexandre Tombini, falando no Senado na terça-feira. Isso garantirá o vigor do consumo.
Essa expectativa, compatível com a previsão de maior crescimento econômico, é parte da explicação das projeções do balanço de pagamentos. Enquanto os novos números eram divulgados pelo banco, o presidente Tombini apresentava aos congressistas sua avaliação da economia. Ele mencionou a expansão estimada por economistas do mercado: 3,4% em 2012, com aceleração para 3,7% no período de um ano encerrado no primeiro trimestre de 2013. Mais explícito que o presidente do BC, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem revelado as próprias projeções – na faixa de 4,5% a 5% no próximo ano. A presidente Dilma Rousseff tem repetido esses números como metas para 2012.
Pelos cálculos do BC, o saldo comercial diminuirá 17,8%, de US$ 28 bilhões para US$ 23 bilhões. Mas o déficit de serviços e rendas aumentará de US$ 84 bilhões para US$ 90,7 bilhões. O saldo das transferências unilaterais diminuirá de US$ 3 bilhões para US$ 2,7 bilhões. Somadas todas essas parcelas, o déficit em transações correntes passará de US$ 53 bilhões em 2011 para US$ 65 bilhões no próximo ano.
Esse déficit será financiado sem problema pelo saldo da conta financeira e de capital, US$ 70 bilhões. Mas o investimento direto estrangeiro, incluído nessa conta, ficará em US$ 50 bilhões. Parte do buraco das transações correntes será coberta por empréstimos e capitais especulativos.
Não haverá nada especialmente dramático na piora da conta corrente. Se as projeções estiverem certas, o déficit passará de 2,1% para 2,4% do PIB, uma proporção administrável. Além disso, a captação de poupança externa poderia ser um fator de aceleração do crescimento – se fosse destinada principalmente, é claro, a financiar o investimento e não o excesso de consumo público e privado, como tem ocorrido.
Esse déficit, em princípio, não justifica maior preocupação. O problema sério está mesmo na conta de mercadorias. O superávit comercial brasileiro tem dependido exclusivamente da exportação de produtos básicos e semimanufaturados. É tolice condenar a exportação desses bens, mas também é tolice descuidar das condições para exportar maior volume de manufaturados. A indústria ainda é a fonte principal dos bons empregos, no Brasil, e um importantíssimo núcleo de absorção e de desenvolvimento de tecnologia.
Política industrial não se faz só com protecionismo e com alguns estímulos dirigidos a segmentos eleitos pela corte brasiliense. Não há, de fato, nada parecido com uma política de modernização industrial no Brasil, embora a presidente e seus ministros afirmem o contrário. Nenhuma economia se torna mais produtiva quando só se cuida de alguns poucos núcleos. Até os ignorantes em futebol entenderam a lição: o Barcelona, e não Messi, ganhou o campeonato mundial de clubes. Isso vale também para a política de desenvolvimento.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 21/12/2011
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