Muitos acreditam que as eleições de 2014 se distinguem do processo eleitoral de 2010. Enquanto a economia parece estagnada, a inflação cresce, a corrupção persiste e parece haver um clima geral de insatisfação. É neste cenário que o eleitor entra em cena. Em entrevista para o Instituto Millenium, o historiador Marco Antonio Villa avalia o quadro político, fala sobre a Lei da Ficha Limpa, da crise da democracia representativa e critica a falta de responsabilidade do povo: “É inadmissível esquecer, dias depois, em quem votou. Como se o ato de votar fosse uma penosa obrigação ou algo absolutamente irrelevante”, diz ele.
Villa concorda que o panorama atual difere das eleições anteriores. “A situação econômica é radicalmente distinta. Há também um sentimento de cansaço e de irritação com tanta corrupção”, diz. Resultado de uma ampla mobilização popular contra a corrupção eleitoral, a Lei da Ficha Limpa, que impede políticos condenados por órgãos colegiados de disputar cargos eletivos, completou quatro anos em junho e será aplicada em eleições gerais pela primeira vez neste ano. Para se ter uma ideia dos efeitos da lei, no fim de junho, o Tribunal de Contas da União divulgou uma lista com 6,6 mil políticos que podem ser impedidos de se candidatar porque tiveram suas contas rejeitadas pela Corte.
Para Villa, no entanto, mudanças profundas só virão com mais participação do povo. “Sinceramente, não creio que tivemos um avanço significativo. Infelizmente, a maioria dos eleitores não se interessa por política. Este não é um fenômeno somente brasileiro. O que falta é, ao menos, durante a eleição, o eleitor ficar atento às propostas dos candidatos”.
A falta de identificação entre eleitores e candidatos é mais um sintoma de uma crise da democracia pela qual o mundo vem passando. “É um fenômeno mundial e recorrente. Não é permanente. Um bom exemplo é a eleição de 1990. Houve um grande número de votos brancos e nulos. E estamos falando de um fato ocorrido há um quarto de século”, explica Villa, acrescentando: “Sou radicalmente contrário ao voto nulo. Se há uma crise de representação, mesmo assim é possível encontrar bons candidatos”.
Apesar da insatisfação do eleitor, cada um precisa fazer a sua parte: “Acompanhar o processo eleitoral, saber quem são os candidatos e cobrar dos seus eleitos o cumprimento das suas ideias ou das promessas”, diz o historiador, que defende um processo de construção de um sistema sólido de partidos com efetiva identificação com o eleitorado. “O que falta é a democracia representativa efetivamente funcionar”, diz.
No Comment! Be the first one.