Foi grande a repercussão da ata do Copom de julho. A impressão que ficou é que o BACEN acabou errando na dosagem da política monetária anteriormente, e que agora, diante da desaceleração da economia, deu uma “maneirada”. Outros fatos domésticos também foram destaque na semana passada, como os dados fiscais e externos de junho, ambos em deterioração, e a concessão de crédito doméstico na economia brasileira.
No cenário externo, os discursos cautelosos e o PIB norte-americano mais fraco acabaram dando o tom do mercado, embora o “teste do estresse” dos bancos europeus ainda repercuta.
Teste de estresse dos bancos europeus. De um universo de 91 bancos, sete acabaram reprovados nesta avaliação. Chamou a atenção, no entanto, o fato de que o aporte de capital que serve como garantia, ou cobertura para a alavancagem dos bancos, o chamado Tier 1, se manteve relativamente baixo nestes testes. Foi de apenas 6%, quando no Brasil esta reserva de capital para a cobertura de empréstimos chega a 11%. Alguns estudos realizados indicavam que se esta taxa fosse mais alta mais bancos reprovados seriam mostrados no teste. Isto nos leva a crer que o BCE acabou pegando leve na sua avaliação dos bancos.
Concluindo: dá para desconfiar se não houve contaminação política na decisão deste teste de estresse…
Ata do Copom. Chamou atenção nos mercados a virada de análise da autoridade monetária, na ata anterior, 44 dias atrás, mais receosa com o ritmo da economia superaquecida, e agora observando uma desaceleração. Como explicar esta reversão em tão pouco tempo? Na verdade, o crescimento atingiu o “pico” no primeiro trimestre por uma conjunção de fatos, como a isenção de IPI para alguns segmentos da indústria, os ganhos de renda e de emprego, a antecipação das compras diante do fim destas isenções, a política monetária ainda frouxa, entre outras. A partir de abril, no entanto, com o fim das isenções fiscais, a atividade econômica começou a perder força, recuando e se assentando para um patamar de crescimento mais sustentável. Com isto, em paralelo, a inflação acabou derrubada também pelo forte recuo do item alimentação e a diluição nos impactos das commodities minerais sobre os IGPs.
Este processo de acomodação acabou revertendo a visão do BACEN sobre o comportamento da política de juros daqui por diante. Alguma cautela é necessária, no entanto, já que pressões inflacionarias podem ocorrer nos próximos meses, em função dos impactos de sempre dos alimentos e serviços. Além disto, o segundo semestre da economia costuma ser mais forte do que o primeiro, em função da proximidade das festas de fim de ano.
No cenário externo, a ata se manteve cautelosa, já que viu crescer a probabilidade de uma recuperação mais lenta das economias mais ricas, com destaque para EUA, Europa e Japão. Além disto, reduziram-se os riscos de inflação nesta região, com a deflação na ordem do dia.
Concluindo: a ata do Copom mudou consideravelmente na avaliação de “cenário prospectivo” da economia brasileira. Para a ata, a atividade econômica continua em bom ritmo, mesmo que num compasso menos intenso do que no início do ano. Observam-se sinais de expansão mais moderada de crédito, em especial para pessoa física, e recuo da confiança dos empresários e dos consumidores que, embora em patamar elevado, mostra “acomodação na margem”.
Na ata anterior e no Relatório de Inflação do período a preocupação maior da autoridade monetária era com os excessos da absorção doméstica frente a uma produção insuficiente. Agora, na ata de julho, o que se falou é que a economia está desacelerando e a inflação cedendo. Ou seja, o cenário virou totalmente em 45 dias, o que nos leva a acreditar que o argumento acabou sendo um pouco inconsistente. Como mudar tanto em tão pouco tempo?
Oferta de crédito em expansão. O volume de crédito da economia avançou 8,1% no primeiro semestre e 19,7% no acumulado em 12 meses. Em junho contra maio a alta foi de 2%, equivalendo a 45,7% do PIB, contra 45,2% em maio.
Deve-se chamar a atenção de que o crédito de junho foi impulsionado mais por pessoa jurídica, pelas empresas, avançando 4,4% contra maio, enquanto que as operações com famílias recuaram 0,5%. Mesmo com este recuo recente na concessão de empréstimos para pessoa física, em 12 meses esta já avançou 16,6% contra 11% para pessoa jurídica no mesmo período.
Sobre a presença de bancos no total de volume de crédito da economia, os públicos voltaram a ganhar espaço, passando de 41,7% para 42,3% do estoque; os bancos privados nacionais responderam com redução de 40,5% para 40,1% e os estrangeiros de 17,8% para 17,6%.
Por fim, a inadimplência do sistema financeiro nacional se manteve controlada em junho, registrando 3,7% contra 3,8% em maio. Considerando apenas o crédito livre, esta taxa foi a 5%, com pessoa física a 6,6%, nível mais baixo desde outubro de 2005. Isto pode ser explicando pelos prazos mais alongados, o que junto com a renda em expansão e o emprego em alta vêm sustentando estes taxas em patamares aceitáveis. Ou seja, com os parcelamentos cabendo nos orçamentos familiares, as pessoas seguem se endividando.
Concluindo: o crédito segue em boa expansão, mas chamou a atenção a perda de fôlego daquele direcionado para as famílias e a presença ainda forte dos bancos públicos nas operações de crédito. Além disto, a inadimplência se manteve controlada, mas o endividamento das famílias segue ocorrendo, com o quadro só não sendo mais perigoso em função dos prazos dilatados, cabendo as prestações nos orçamentos.
Setores externo e fiscal em deterioração. Não tem jeito, com a demanda agregada da economia aquecida e certa parcimônia fiscal os déficits acabam inevitáveis. Em junho, o do setor externo, no acumulado deste ano, foi negativo em US$ 23,76 bilhões, 2,47% do PIB, crescente em 234% contra o mesmo período do ano passado. Este foi o maior déficit de primeiro semestre da série, iniciada em 1947. Em 12 meses, o saldo negativo foi a US$ 40,88 bilhões (2,13% do PIB), outro recorde histórico.
Para julho, as projeções do BACEN indicam um saldo externo negativo em torno de US$ 3,7 bilhões, com a demanda doméstica mais aquecida, elevando as importações e o maior volume de viagens internacionais. No resultado de junho, um fator decisivo para a deterioração veio do aumento das remessas de lucros e dividendos, com a conta Serviços e Renda fechando no negativo em US$ 7,60 bilhões. Já a dívida externa subiu em junho a US$ 225,17 bilhões, sendo que em maio a dívida foi a US$ 218,32 bilhões e em março a US$ 211,53 bilhões. Em junho, a dívida de curto prazo foi a US$ 42,17 bilhões, contra US$ 37,35 bilhões, e à de médio e longo prazo a US$ 183,00 bilhões contra US$ 180,97 bilhões em maio.
Em complemento, o desempenho fiscal de junho mostrou uma economia desacelerando, a arrecadação devendo recuar, mas as despesas ainda em trajetória perigosa, puxadas, desta vez, pelo incremento dos investimentos.
O superávit mensal foi a R$ 2,05 bilhões, pior resultado desde 2003 e a R$ 69,36 bilhões em 12 meses, 2,07% do PIB, e acumulando no ano R$ 40,10 bilhões (2,36% do PIB). Já a dívida líquida do setor público se manteve estável em junho, a 41,1% do PIB, em função da depreciação cambial de 3,5% ocorrida. Por fim, com a capitalização do BNDES a dívida bruta acabou em 60,1%.
Concluindo: nestes fronts – externo e fiscal -, só nos resta torcer para que as despesas públicas desacelerem e melhorem na sua composição e da demanda externa se recuperar para alavancar as exportações. Com o volume de reservas cambiais a US$ 250 bilhões e os investimentos externos ainda ingressando, o déficit externo atual é financiável, mas se ficar acima de 3% do PIB começarão a surgir os problemas.
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