Com uma safra recorde de 240 milhões de toneladas de grãos e exportações beirando os US$ 100 bilhões, é notável o sucesso do agro brasileiro.
O ministro Blairo Maggi tem liderado incansável batalha para ampliar o acesso dos produtos do agro brasileiro no exterior. Recentemente ele disse que o mercado externo é conquistado “na cotovelada e na botina”.
De fato, não é tarefa fácil. De um lado, países ricos e pobres protegem ferozmente os seus agricultores e agroindústrias com altas tarifas, barreiras não tarifárias e subsídios. Do outro, a oferta excedente de produtos agropecuários no Brasil não foi acompanhada por uma melhoria condizente dos sistemas de transporte, armazenagem e defesa sanitária.
Um dos problemas mais críticos que o ministro enfrenta ao tentar abrir mercados é a mentalidade autárquica de autossuficiência que domina toda a economia brasileira, incluindo o agronegócio.
O grosso do empresariado brasileiro tem a visão equivocada de que exportar é bom, mas importar é ruim. Alguns chegam ao absurdo de defender que a balança comercial deveria ser superavitária em todos os setores da economia, independentemente das suas vantagens comparativas.
Empresas, sindicatos e associações de classe lutam contra qualquer tipo de abertura comercial, buscando com isso preservar o imenso mercado doméstico de que dispõem ou alegando que o “custo Brasil” impede a competição. O resultado é que somos uma das economias mais fechadas do planeta, em termos de importações sobre o PIB.
E o agronegócio não é exceção. Basta observar nosso padrão de comércio no setor. Segundo levantamento do Ministério da Agricultura, a União Europeia lidera o ranking do comércio no agro mundial, exportando US$ 151 bilhões e importando US$ 157 bilhões em 2016.
Em segundo lugar vêm os EUA, com exportações de US$ 149 bilhões e importações de US$ 147 bilhões.
Em terceiro, a China, que exporta US$ 73 bilhões, importa US$ 111 bilhões e detém o maior déficit comercial do planeta.
Em quarto lugar vem o Brasil, com exportações de US$ 72 bilhões e importações de apenas US$ 11 bilhões. Contamos hoje com o maior superávit comercial do planeta, o que à primeira vista pode ser visto como positivo, mas tem consequências ruins.
Nossas restrições às importações são brutais no agronegócio. Parece inacreditável, mas nos últimos anos o Brasil impediu ou restringiu importações de cacau, café, banana, coco, borracha natural, camarões, laticínios e até carnes para processamento. Em alguns casos, permite-se a entrada de processados, mas não a de matérias-primas para adição de valor no país.
Até produtos como o etanol — mercado global o qual lutamos arduamente para abrir com toda sorte de argumentos econômicos e ambientais — correm o risco de terem suas tarifas elevadas.
Para exportar mais, é preciso importar mais, a exemplo do que fizeram todos os países que deram certo, se integrando nas cadeias globais de valor e ganhando competitividade.
Além disso, nossos parceiros comerciais sempre exigem reciprocidade para abrir os seus mercados. O comércio é uma estrada de duas vias e é fundamental ser coerente. Muitos mercados de alto valor para o Brasil continuam fechados porque o Brasil se recusa a importar pequenos volumes de produtos em setores que não conseguem ver que o mundo é definitivamente maior que o Brasil, ao menos no agronegócio.
Não vou aqui discutir as razões de curto prazo que levam alguns setores a querer proibir importações. Elas sempre existirão. Mas no longo prazo nosso verdadeiro interesse é por maior abertura de mercados. Esse é o único porto seguro para o agronegócio brasileiro no longo prazo.
É triste, mas boa parte das “cotoveladas e botinadas” a que o ministro se refere ocorrem dentro de casa.
Fonte: “Folha de S. Paulo”, 22/07/2017.
No Comment! Be the first one.